quarta-feira, 25 de novembro de 2015

Desabafo

aquele desejo mórbido voltou
sensação de vazio, não pertencimento
minha incapacidade de fazer as pessoas a minha volta felizes
como se eu fosse um câncer
uma avalanche que por onde passa leva destruição
tudo culpa minha
não sou boa, perfeita suficiente
minhas falhas falam mais que qualquer qualidade
que falta de vontade (de viver)
sou uma felicidade farmacológica

encapsulada dia-a-dia
sorriso plástico, quase uma máscara colada a minha face
ai de mim descorda, ai de mim ter um dia ruim
se eu to com raiva a culpa é da depressão
se eu to triste eu não tomei o remédio
se eu to bem, que remédio milagroso
nunca sou eu
me reduziram a depressão e ao remédio
me olham como uma bula ambulante
com os os efeitos estampados na cara
se eu morrer, será que finalmente terá sido eu?
ou será a doença que foi mais forte do que jamais fui?
e a lágrima nos olhos. será culpa de quem?
vai que é um defeito de fábrica, um vazamento indesejado
as costas se viram pra mim
as vozes sobem, gritam
e eu tento abafar, minha voz engasga na garganta
não posso mais sequer chorar
tenho que virar estatua, constante
perfeita, presa no museu, que todos querem admirar
mas não chegue perto, ou as falhas vão ressaltar
quanto mais tempo passa mais minha face ( ou a mascara) se corrói
olho no espelho e não vejo nada do que fui ou quero ser
olho pra dentro e vejo tudo pela metade,
destruído pela maré de sentimentos 
aqueles deslocados. perdidos sem rumo
é tristeza que se alojou no peito
as borboletas que voaram 
medo que nos olhos se instalaram
felicidade que na memória se alojou
se trancou, com medo de ser expulsa de mim.
voltei a ter medo da solidão
não dela em si, 
mas da inibição que vem com ela
os impulsos, desejos indesejados
a ânsia de só deitar e dormir, não levantar
não lidar com a decepção estampada no olhar
a reprovação que me persegue onde quer que eu vá
me levem, me joguem ao mar
quem sabe Iemanjá possa me aceitar.