sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

Acho que você entende meus sorrisos. Aqueles que aparecem enquanto estou quieta e você acha graça. Não que saiba os porquês, mas entende que são por sua causa.
Acho que você entende meus silêncios.
Entre todas as pessoas que conheci, foi justamente você quem se encaixou bem dentro deles.
Logo eu, que sempre fui tão cheia de palavras, ficando quieta, ficando calma, parecendo tão tranquila. E você, do meu lado, numa cena romântica enlatada e mesmo assim tão correta.
Acho que eu começo a entender seu jeito.
Começo a entender sua gentileza por baixo da distância. Sua arrogância do lado da sua preocupação comigo. Suas contradições que me fazem sorrir enquanto posso ouvir seu coração batendo.
Começo a entender você, que me parecia tão contra demonstrações de afeto, colocando meu cabelo rebelde atrás da minha orelha e beijando minha testa.
Acho que começo a conseguir juntar a imagem que eu tive, daquele cara frio, com a que tenho formado, a do cara que lembra a data do nosso primeiro encontro. E é engraçado que dois lados tão discrepantes de uma mesma pessoa se encaixem tão naturalmente nos meus raros e naturais silêncios. Mas, talvez, seja ainda mais engraçado que eu, logo eu, não só me sinta confortável com esse encaixe, mas queira que eu também caiba nos seus.
Então o que você vê é uma Carolina cheia de gostos e atitudes diferentes das que esperavam dela. Mas eu acho que você também não tem agido como o esperado. E talvez por isso você entenda meus silêncios - e meus sorrisos.

domingo, 9 de dezembro de 2012

Você disse que a vida era um grande mistério que a gente nunca consegue entender. E que tudo é grande demais e passa despercebido; quando a gente nota, acabou.
Mas eu, eu gosto dos detalhes. Enquanto a vida passa, eu vou pegando as pequenas coisas e juntando, juntando, juntei. E quando noto, as coisas tão passando e eu tô guardando começos e meios, vivendo finais e mais finais.
Eu sou do tipo que carrega todo aquele peso metafórico que a gente carrega na vida.
Mas você, você vive solto, sem esperar nada de ninguém. Sem guardar nada de ninguém. Sem levar peso nenhum.
Você voa, eu me arrasto. Mas é um pouco engraçado: no meio da noite, sempre parece que é o contrário.

Silêncio incomodo
Que esconde, que busca  a solidão
Busca um olhar que nunca está lá
Que busca os braços de quem não pode encostar.
Silêncio revoltado, desamparado
Sem nenhuma pretensão.
Silêncio que se faz, que reverbera na escuridão.
Saudade de uma canção.
Saudade de tua mão, de ouvir tua opinião.
Minha voz emudecida com a ascensão de teu avião
Minha boca seca, minhas lágrimas em profusão.

quarta-feira, 28 de novembro de 2012

X

Novembro chegou e passou. E minha única vontade é conseguir escrever sobre meu coração partido há quase dez anos.
Faltam dois dias para completar uma década. Mais alguns dias e completo dez anos sem você. Dez. Cento e vinte meses sem ver você, falar com você, ouvir palavras suas. Três mil seiscentos e cinquenta e dois dias sentindo sua falta me bater, me sangrar, me partir em pedaços cada vez menores e mais tristes.
Às vezes eu ainda me pergunto como isso foi acontecer. Como você estava lá e de repente era só uma lembrança na minha cabeça de menina de nove anos? Eu era tão nova para lidar com essa ausência e de repente o universo me vem com essa dor maior que eu, maior que a minha vida, maior  até do que a sua vida (que foi curta. Foi muito curta). Como isso foi acontecer?
E agora faltam dois dias e novembro vai ter seu último dia, e dez anos vão ter se passado desde que você teve o seu último dia. Eu vivi mais tempo sem do que com você. Vivi menos tempo com você do que com essa ausência presente em cada momento.
Dói tanto saber que eu não te disse que te amava na última vez em que nos falamos. Será que você sabia? Será que imaginava que se partisse faria essa falta que só quem é amado faz? Tantas coisas que eu deixei de te dizer, tantas coisas que eu devia ter dito.
Naqueles primeiros dias sem você, dias em que você estava em coma, eu fazia uma lista de tudo que queria te contar quando você acordasse. Mas você não acordou e eu mantenho essa lista. A cada grande acontecimento, eu acrescento um tópico nessa lista gigantesca de coisas que você ia querer saber. E essa lista absurda e sem sentido é a única forma que encontrei de sentir que tenho minha mãe nos meus dias.
Dentre tantas outras dúvidas, eu me pergunto se hoje eu sou alguém de quem você se orgulharia. Se eu te decepcionaria como filha ou como pessoa. Se eu sou uma pessoa ao menos parecida com quem você era.
Eu queria tanto ter mais um dia com você! Eu queria tanto, pelo menos mais uma vez. E então eu finalmente poderia dizer que te amo.
Mas novembro já chegou e passou. E, no dia trinta, dez anos vão ser completados.

sábado, 24 de novembro de 2012

Hedônismo Hostil

Dor sem razão
Vazio completo
Uma eterna solidão
Tomada a cada dia com sofreguidão
Tomada em copo de ouro
Em benevolente servidão.

A Derradeira

Nunca em primeiro lugar
Nunca a primeira escolha
Nunca alguém para se recordar
Nunca , nem mesmo para si mesma.

sexta-feira, 16 de novembro de 2012

Outra Última Vez

Eu me encontrei, mais uma vez, em frente à sua porta. Pedindo um pouco de atenção, pedindo que aceitasse as palavras que escrevi sobre você durante cinco longos anos. Cá estou eu, na sua porta, na sua frente, pedindo mais uma vez para entrar.
Mesmo que eu saiba (e sei bem demais) como é ficar do lado de fora, continuo batendo. E sempre me prometo que essa é a última vez. E sempre acabo voltando. E me recuso a aceitar que essa é realmente a última vez, porque escrever sobre você parece tão certo nessa minha vida torta.
Entenda, não estou pedindo amor. Não estou pedindo que cuide do meu coração. Eu só quero poder entrar mais uma vez, ficar - quem sabe? -, escrever sobre você. Se não for incômodo me receber mais uma vez.
Mas eu não quero ser hóspede na sua vida. Também não preciso morar nela. Eu só quero existir nesse universo tão seu. Vou fazer meu melhor para não atrapalhar. Essa é a última vez que venho até sua porta e peço isso, digo para mim mesma. Porém, nós dois sabemos, todas as vezes que eu olhar nos seus olhos vou me convencer a voltar e pedir só mais uma vez.
Então vamos nos poupar de todo esse drama. Só me deixe entrar. E, se você quiser que eu fique, essa vai ser a última vez que te peço.

quinta-feira, 15 de novembro de 2012

Revanche

Eu vou queimar a casa em que você mora. Vou roubar sua coleção de discos. Vou arranhar as portas do seu carro.
Vou pegar cada livro seu e deixar dentro uma foto nossa para você se lembrar de como era comigo. Vou rasgar cada foto sua com ela. Vou deixar minhas roupas dentro do seu armário e te fazer se lembrar de mim todas as manhãs.
Meu bem, ambos sabemos que estou mentindo. Fui para não voltar. Arranquei de mim todo o vestígio de sentimento que cultivei por você. Mas ainda assim eu vou me transformar no seu pior pesadelo. Vou ser o fantasma do qual você não consegue se livrar. Você sabe, nunca vai se libertar da minha presença.
Seu livro preferido, a música que você costuma cantarolar enquanto toma seu banho, os restaurantes que você frequenta, sua camiseta mais bonita: nada mais são do que lembretes de que eu existo. E você vai conviver diariamente com a lembrança do que me fez. Da tristeza que causou.
O peso que carreguei não é nem metade do que você vai carregar de culpa. Eu não preciso - nem quero - me vingar. O preço que você vai pagar já é alto demais.
Estou saindo limpa do nosso caso. Você não. Nada vai apagar esse fato.
Antigo amor, tente largar essa culpa. Eu te perdoei (mesmo que eu saiba que, no fundo, você nunca vai se perdoar). Vai procurar um jeito de ser feliz e me deixa seguir com minha vida, mereço ser mais do que um fantasma. Eu não quero essa vingança.

domingo, 11 de novembro de 2012

Asfixia Nominal

Te vejo e tenho vontade de lhe gritar
Teu nome me vem a garganta implorando para se libertar
Não posso! Não vou. Não devo...
Deixo te passar
Mas teu nome continua lá a me sufocar.
A garganta dói de tanto me conter
E os olhos ardem das lágrimas que não deixei descer.

Errante

Veio de dentro me queimando, transformando-me em fuligem. Em restos débeis e diminutos, espalhados pelo vento como tudo que um dia havia almejado.
Estou por toda parte, sou tudo e nada ao mesmo tempo. Sou? Fui!(Jamais) serei...
Mas como fênix renasço do nada, de tudo que já fui um dia. Saio melhor, de cabeça erguida ciente do que que deixei de ser, mas sem noção do que hei de me tornar.
Tantas possibilidades, tantos caminhos a trilhar, mas nem um norte, seguer uma estrela para me guiar.
Resnascida e perdida, a entrada desse labirinto que é a vida. A cada curva uma surpresa, um beco sem saida ou encruzilhada à encarar.
Que será que me espera ao fim dessa jornada, que a nada parece levar? 

Rien de plus...

Queria dizer que aprendi
Que cresci e não me arrependi.
Meias verdades que passei a distribuir.
Proclamando-as, jogando-as ao ventos
Para quem sabe alguém me ouvir
Se importar com o que eu tenho para contar.
Me iludi.
Quando achava que alguém viria me resgatar
Era o eco de meu próprio desespero
Que voltava para me assombrar.
Ribombava em minha fortaleza
Abalando-me inteiramente.
Soterrando o que sobrara de mim.

Virei pilha de destroços.
Voltei a ser nada para você.
Voltastes a me esquecer.

quinta-feira, 27 de setembro de 2012

Masoquismo Emocional

Dói um pouco. Essas músicas antigas que me enchem de nostalgia, esses filmes que podiam ser minha vida mas não são, esses livros que são tudo o que eu queria ter e tudo o que eu queria escrever.
Dói um pouco esse cheiro de madrugada, esse silêncio acompanhado pelo rádio que a  solidão me traz, essa vontade toda de ser meus sentidos e me fundir ao que sinto ao meu redor.
É um pouco engraçado como dói essa sensação de estar vivendo o que eu sabia que deveria viver da forma que esperava que fosse ser. Dói ser quem eu queria ser.
Dói, um pouco demais, carregar toda essa responsabilidade que é ser feliz. A felicidade dói, é um peso. Dói por ser grande; por se expandir; por se forçar para todas as direções, de dentro para fora, crescendo, crescendo, preenchendo, transbordando. Pesa por te lembrar, a todo instante, de que ela existe, está ali, te pedindo pra ser dividida, compartilhada, expandida.
Dói, e dói demais, dói imensamente, o amor. Dói se sentir queimar de amor. Mas quanto mais as chamas ardem, maior é a felicidade - que também dói. Quanto maior a dor, menor a dor: quanto maior essa, menores são todas as outras.
Dói um pouco pensar tanto em todas as coisas que me rodeiam. Mas dói da mesma forma que as minhas dores mais doces e eu sempre quero mais.
É verdade que tudo me dói um pouco, mas prefiro que doa, preciso que doa. Só assim posso saber que é real, que é intenso, que é meu.

sexta-feira, 21 de setembro de 2012

Minguante

Faço me escassa para poder me reencontrar. Me definia pelo que havia a minha volta, uma imagem reflexiva. Mimetizava, me camuflava ao meu ambiente. Agora, meu eu-camaleão se foi, perdeu as cores, a mutação. Virei-me apenas eu. Sem tirar, por, repor. Um poço de filmes, músicas e palavras embaralhadas. Mas parece que nada mudou, ainda sinto as mesmas coisas, tenho as mesmas dúvidas, sonho o mesmo sonho quando não estou a sofrer de insonia. Uma xícara, duas xícaras de café, um copo de chá gelado. Estou sem fome, obrigada. Estudo desmotivada, abandonada. Vejo filmes compulsivamente, e ouço listas infinitas de músicas que pararam de fazer sentido meses atrás. Perdi a conexão com o mundo, deixei de fazer parte, de compor. Quero poder querer sem medo, desilusões. Alimentavam-me de falsas promessas, abraços vazios. Deram me tanta imensidão,tanto espaço que fiquei oca, me camuflei tanto que tornei-me invisível a olho nu. Torno-me agora, de maneira consciente, plano de fundo e personagem secundário. Hei de crescer sozinha, sem herois ou anti-herois para me auxiliar. Galgarei minha vida sem nada esperar.

quinta-feira, 20 de setembro de 2012

Paralelismo

Eu nunca soube que um coração podia ser partido tantas vezes, de tantas formas diferentes, sempre pela mesma pessoa.
Tanta coisa mudou em mim desde que o conheci. E ainda me permito me aproximar sem pensar em proteções e me machucar de novo e de novo.
Nós dois tivemos uma história de desencontros. Nossas vidas são linhas paralelas. Nós nos amamos tanto, de tantas formas, e sempre do jeito errado. Foram amores diferentes, vontades diferentes, horas diferentes. E eu, depois de tanto perder e mudar e desencontrar achando que estava encontrando, continuo tentando encontrar um equilíbrio pro que devia ter acabado há tantos anos.
Mas não existe um equilíbrio. Só perdas. Perdi um grande amor, um grande amigo, um grande pedaço da minha vida. E eu encerro essa história com um conhecimento sobre partidas que nunca quis. Parti tantas vezes (com o coração partido) que não posso fazer nada exceto acenar enquanto ele parte (da minha vida e meu coração, pela última e definitiva vez).
Porém, todos sabem que linhas paralelas se encontram no infinito. Todos sabem, nossas vidas ainda se encontrarão. Nem eu nem ele jamais seremos capazes de partir pela última vez, meu coração continuará sendo partido.

segunda-feira, 17 de setembro de 2012

Quimeras

Tive um sonho certa vez em que eu era uma árvore. O tempo passava por mim; as minhas folhas (que se pareciam com meus cabelos) eram agitadas pela brisa; eu deixava as coisas acontecerem; deixava a energia fluir; sentia a seiva (tão parecida com meu sangue) correr calmamente; aguardava a vida tomar seu rumo enquanto eu estava parada, me sentindo tão parte do universo que não me importava por estar enraizada ali no lugar de fazer parte de fato.
No sonho, eu era feliz sendo uma árvore. Existia em paz. E nem sol, nem chuva estragavam minha alegria. Eu era uma árvore. Se não faria diferença o que eu pensava, não pensaria em absolutamente nada importante.
E fui deixando a vida prosseguir, os anos passarem. Sem refletir, sem debater comigo mesma, sem agonias típicas de quem tem a mente inquieta. O universo era eu, eu era uma árvore, a felicidade estava em saber desses dois únicos fatos.
Em algum momento passarinhos ofereceram liberdade: não asas literais, mas asas literárias. Me ofereceram poesia e conhecimento. Mas, em minha paz, não existia espaço para as perturbações na alma necessárias na busca por eles. Pedi que fossem embora, queria minha calma.
E, em minha solidão de árvore, acreditei em minha felicidade.
Acordei calma. Acordei feliz. Acordei me sentindo como se tivesse raízes e seiva e folhas. Mas, ao contrário do sonho, não consegui acreditar em minha felicidade e, por fim, as perturbações necessárias para a busca pelo conhecimento e pela poesia gritaram em mim.
Senti o sangue pulsar forte, não correr calmamente como aquela seiva fazia. E fiquei satisfeita por não ter as raízes. Porque sonho com as asas - se não as literais, ao menos as literárias.

domingo, 16 de setembro de 2012

Circular

Eu poderia ter todas as palavras do mundo prontas para serem usadas, mas nunca conseguiria fazer justiça aos seus olhos. Nunca seria capaz de explicar essa estranha fascinação que sinto por eles. Anos se passam e, quando te encontro, eles ainda me fazem pensar em metáforas ridículas, ainda me fazem parecer a menina que fui.
Porém, da última vez que os encontrei, não foi aquela menina que viram. Eu posso assegurar a qualquer um que viram todas as mudanças pelas quais passei; que ainda foram capazes de ver minha essência; que, pela primeira vez, viram uma mulher. Quase posso dizer que viram alguém desejável -ou talvez eu tenha refletido o meu desejo (mais uma vez imenso) no seu olhar.
Não posso negar isso, eu vi alguém desejável. Centenas de vezes mais desejável do que aquele outro alguém que eu jurei ter deixado para trás há mais de um ano. Ou talvez não, pode ter sido esse tempo sem vê-lo que me deu essa sensação.
Por uma razão qualquer, acreditei ver alguém com gostos parecidos com os da pessoa que sou hoje, e com uma voz (que mudou tão pouco mas parece tão mais sexy) que deveria ser usada baixinho perto do meu ouvido. Sei que vi alguém de conversa fácil e com mãos que quis sentir não nas minhas, mas na minha cintura. Pelo menos mais uma vez.
Eu sou incapaz de entender seus porquês para fazer o que faz comigo. Isso tudo não pode ser justo com minha pessoa. Toda vez que mudo e acredito não poder mais encontrar espaço para você, seus olhos aparecem me mostrando que suas mudanças acompanharam as minhas. A cada vez que penso ter superado essa vontade toda de você, seus olhos vêm zombar de mim. E agora já tanto faz se meus sentimentos ainda insistem em renascer ou se é só desejo que me empurra para você. Tanto faz se quero você ou seus olhos. Eu poderia ter todas as palavras do mundo, e ainda seria incapaz de explicar a confusão em que você me coloca.
Mas, se você disser que me quer, eu esqueço a confusão. E eu nem sequer peço por sentimentos, nosso problema sempre foi essa ânsia sem fim que sinto por você, essa complicação circular que faço de nós dois.

quinta-feira, 13 de setembro de 2012

Trilhas

Traço meu caminho usando linhas tortas. Faço minhas curvas com pequenas retas; sempre decisões tão certas no início, sempre experiências tão curtas.
Ando descalça - metáfora para "vivo correndo risco de me machucar". E como me machuco! Mas meus cortes ardem de formas doces e me nego a piedade.
Deixo o vento bater. Deixo a onda bater. Deixo a vida me bater. Deixo-me sentir o que puder sentir.
Vejo o sol pintando as árvores ao se pôr, vejo as sombras alongadas no chão. Não vejo meu lugar ("amor, me diga que o achei, e é contigo").
Então a angústia vem, as lembranças se vão, e não me perco. Sei bem quem sou e quem me dói. E as lágrimas escorrem enquanto torço para que formem um rio.
O vento me encontra outra vez. Por vezes, sopra suave. Por outras, sussurra meu nome. São nestas vezes que sei que vou ficar bem. Porque não sei meu lugar, mas o Vento promete me levar até ele. Fecho os olhos e deixo o Vento me bater. Me levar. Tanto faz. Ele ainda não me mostrou qual é este tal lugar. Mas continua prometendo. Eu continuo acreditando.
Talvez eu nem queira encontrar. Só quero as promessas do Vento, seu sopro, seus sussurros. Só quero as chances que a vida dá. Talvez eu já tenha achado, talvez eu pertença à procura. Não como uma eterna insatisfeita amarga. A procura é doce por si só, a amargura não cabe. Talvez pertença à ela por gostar dessa doçura. Principalmente por gostar de pequenos encontros. E encontros só são possíveis quando você se movimenta.
Então traço um novo caminho, novas curvas. Com pequenas retas. Vou descalça. Nenhum amor disse que achei meu lugar, mas o Vento continua prometendo.

quarta-feira, 12 de setembro de 2012

De Meia Noite às Seis

Tenho passado noites me revirando na cama pensando. Não pensando em coisas incriveis que mudariam o mundo, ou pensando no porque da minha existencia. Estive pensando por pensar, quase que divagando por horas a fio ao som do meu ventilador e do meu computador em constante alerta. Dependendo da trilha sonora ao fundo faço planos de viajar pelo mundo e me perder nele, penso em um sorriso com carinho, declamo poemas que nunca chagaram a ver qualquer luz que nao seja a da minha janela. De madrugada sonho mais acordada do que nunca. Invento problemas para soluções já existentes. Relembro de detalhes singelos do meu dia como um arco-iris na janela, um beijo roubado que presenciei. Sinto o lençol que me envolve parcialmente o corpo e penso como seria se estivesse flutuando a esmo no mar ou em uma piscina em qualquer outro lugar que não fosse esse. As vezes me pego sonhando em ser escritora e quando penso em escrever meus pensamentos me enganam e resolvem brincar de pique-esconde em meu subconsciente, me fazendo persegui-los por horas a fio até que percebo o quão claro meu quarto se encontra e vejo que mais uma noite se foi e eu a passei em claro. Lamento a noite improdutiva mas deixo de divagar e passo a fazer as contas de quantas xicaras de café me serão necessarias para permanecer de pé.

terça-feira, 11 de setembro de 2012

Momento Angular

Ele era cheio de ângulos. Seus ombros, seus cotovelos, seu rosto. Possuia aquela graça desengonçada típica de quem é muito magro. Seus pés e mãos pareciam compridos demais para seu corpo. Sua voz combinava com seu sotaque tanto quanto combinava com minhas manhãs.
Eu gostava de sua barba e de seus cabelos rareando. E gostava ainda mais das novas possibilidades que sua presença representava. Porque tudo o que eu desejava era possibilidades.
Naquela época, meu sorriso mudara. Menos bobo, menos frequente. Mais adulto. Eu era feliz, satisfeita com o desenrolar da vida, mas depois de mudar o sorriso, passei a procurar mudanças por todos os cantos. Talvez fosse essa procura que me levara olhar para ele: seus cantos. Cantos, pontas, ângulos.
Mas havia outra coisa que me atraía - ele iria embora. Iria em pouco tempo. A certeza disso, a data marcada para o adeus, me acalmava. Era um porto em meio ao mar de de possibilidades que ele era.
Também existia uma data para uma rápida volta. Essa, sabia eu, me manteria firme pelas semanas que se passariam. Para mim, tornava tranquila a partida dele.
E ele foi. Como tantos outros antes dele, passou por minha vida. Exibiu suas possibilidades, ensinou que as mudanças guardadas por estranhos podiam ser doces. E, no tempo certo, sem um segundo olhar, foi.
Eu, que gostava tanto de seus ângulos, assisti sua partida com calma. Acabei por esquecer sua volta. Não queria que voltasse, queria suas mudanças. E mudanças encontrei em muitos outros pequenos amores que me apareciam diariamente pelos corredores.

segunda-feira, 10 de setembro de 2012

Festa

Despi minha alma enquanto observava a lua subir no céu. Não que ela estivesse cheia e romântica, era uma lua minguante. Luas minguantes não servem nem pela poesia.
A lua minguante e eu crescente. Sem poesia. Mas ela subia no céu, amarela. E eu despia minha alma. E expunha meus segredos para um ilustre desconhecido. E via poesia no couro da jaqueta dele contra minha pele cada vez mais fria.
Então a noite foi passando. Falamos das nossas infâncias, dos nossos futuros. Falamos de rock e jaquetas de couro. De meus saltos altos vermelhos. Dançamos porque a noite chamava nossos nomes e a músicas pulsava agitada em nossas veias. A lua continuava subindo. O lago começara a brilhar refletindo o céu.
De repente tudo parecia pequeno. E o ar da noite era a única coisa que importava. E a madrugada ia ficando cada vez mais escura, enquanto a lua ia atingindo o pico. Eu esperava ansiosa pelo ápice daquela noite irreal.
Quando a lua atingiu o ponto máximo no céu, ele me beijou. Me parecia a única coisa racional a ser feita: celebrar a lua de toda e qualquer maneira irracional que eu pudesse imaginar.
Quando cheguei em casa, não pude me esquecer do cheiro da sua pele. Ou de como ele me conduzia na pista de dança. Ou de como os olhos dele pareceram bonitos antes de eu fechar os meus.
Não me esqueci principalmente de como despi minha alma. Nem da lua. Ainda não esqueço.
Deus! Eu devia ter bebido menos.
Mas, pelos deuses, como estava linda a lua!

quarta-feira, 5 de setembro de 2012

E por um breve momento foi-se.
Como uma onda a quebrar na areia da praia
Se findando para logo em seguida retornar
Foi um momento preparado,ansioso.
Toda uma preparação para na hora se acabar
E culminar em bolhas brancas e mais areia.
Juntam-se testemunhas dessa dança milenar
Um para cá, outro para lá (chuá!)
As vezes outros também se põem a balançar
Um tronco, uma boia, uma jangada abandonada
Sentem o ritmo do mar, gingam sem sair do lugar.
Mas ocasionalmente um viajante, um amante aparece
E lança sua sorte nas ondas, implorando para entregar
A garrafa com sua mensagem, a primeira donzela que encontrar.
Ah! Iemanjá, quantos amantes já não tiveras?

domingo, 19 de agosto de 2012

Retrato seu

Hoje eu quis tirar uma fotografia sua. Quis fotografar seu cabelo bagunçado pelo vento, seu olhar na minha direção, o contraste da sua pele junto da minha.
Quis gravar num filme ou na memória do celular - além de na minha - seu sorriso provocando o meu e sua barba ameaçando crescer.
Por tudo o que é tão bonito em você, pensei em fazer um retrato seu. Pensei em capturar seus movimentos sem que você percebesse, sua feição sob a luz que atravessava os vitrais. Pensei em fotografar as palmas das suas mãos, suas orelhas, a curva do seu pescoço, sua mandíbula, seus dedos indicadores. Quis que toda essa beleza que encontro onde ninguém costuma procurar fosse registrada.
Cada pedacinho seu provoca tanto sentimento nos meus que parece quase errado não retratar todos os nossos momentos juntos. E eu, que não sei fotografar, tento retratar você da melhor forma que posso: te revelando nas minhas palavras.

quarta-feira, 15 de agosto de 2012

Falta

Procurei você em músicas que nunca pôde ouvir. Em filmes que o tempo não te deixou ver. Em livros que não sei se você gostaria.
Procurei um pouco de nós em lugares em que nunca estive contigo e em lembranças vagas que são tudo o que me resta de você.
E me dói. Sua ausência permanente me machuca depois de todos esses anos.
Às vezes eu ainda durmo com sua foto escondida no travesseiro, ainda acrescento itens na lista que fiz de tudo que precisava te contar, ainda ensaio diálogos para nós.
E me dói. Saber que tudo o que tenho de você sempre vai ser muito pouco me magoa.
Eu quis tanto de você, e quis tanto acreditar que estaria comigo mais uma vez, que me esqueci de aceitar o seu adeus. E agora já é  tarde para dizer o que deixei calar.
Mas a dor já não se cala. Verdade seja dita, só faz aumentar quando te encontro por acaso em lugares onde nunca esteve. E te encontro. Onde procuro, onde não procuro, onde não quero te ver.
Sua existência me assombra como um fantasma. Então me assombre. Mas não me deixe esquecer. Porque toda essa dor é saudade. E saudade é só o que resta do amor que sentiu por mim.

segunda-feira, 6 de agosto de 2012

Excêntrica

Diziam que era excêntrica.
Parecia criança em seus rompantes de alegria e tristeza tão profundos quanto volúveis. Ela se permitia sentir com uma sinceridade única. Tinha mais medos que a média, mas tinha uma felicidade desmedida pelo simples fato de estar viva.
Acordava de manhã cedo para sentir os primeiros raios de sol no rosto. Certa vez alguém lhe dissera que esses raios eram a fonte da vida e da magia das fadas. Ela não sabia se acreditava nas fadas, mas acreditava nas pessoas e não via um motivo para não aproveitar o sol nascendo.
Aquela menina nunca fora motivada pelo "por que?". Sua vida era guiada pelo "por que não?". Fora levada por essa pergunta a cometer seus erros mais doces e encontrara seus grandes acertos agindo simplesmente porque não tinha motivos para não agir.
Já ouvira de uma cigana que tinha alma de um deles. Parte sua sonhara que era verdade, que um dia encontraria seu bando, que levaria uma vida nômade. Seu sonho, como seus tantos outros, a fez feliz por um tempo. Até que seu interesse se voltou a qualquer outro pedaço de vida brilhante.
Sua vida (ela recusava a chama-la de existência, até nos piores momentos, era uma vida muito bem vivida) era lotada desses pedaços brilhantes. O que a agradava parecia ilumina-la. E ela, que já nascera com luz própria, andava resplandecente por entre seus semelhantes: seres exóticos, por vezes encantados, por vezes encantadores, que sabiam viver tão bem quanto ela.
Em outra ocasião, ouvira - e ela gosta de pensar que de uma feiticeira - que tinha alma de fogo, mas a menina era capaz de jurar que era água. Tão forte quanto o fogo, porém mais suave.
Seu namorado dissera que ela era meiga. Sua melhor amiga, que era forte. Um antigo amigo, misteriosa. Um professor, curiosa. Outro, interessada e talentosa. Ela simplesmente abraçava as tantas versões dela e sorria feliz deitada na grama sem nenhuma grande preocupação (porque as preocupações ela largava embaixo da cama).
Seu dia-a-dia não lhe parecia especialmente interessante. Seus hábitos não eram exatamente atraentes. Mas sua maneira de andar pela cozinha dançando, seus pequenos saltos ritmados pelas escadas, seus passos trôpegos de quem anda com a cabeça na lua, seus detalhes que passavam despercebidos para quem não prestava atenção a tornavam fascinante sem que ela soubesse.
Suas madrugadas eram consideradas - por ela mesma - mágicas. Repletas de sensações, músicas e palavras. Era nas horas de silêncio e solidão que ela respirava fundo e fazia o que ela acreditava ser seu próprio tipo de mágica: criava.
E, de tanto criar, acabou se encontrando num mundo fantástico cheio de beleza e encantamento. Até que um dia ela percebeu que não fora ela que criara aquele mundo. Aquele mundo era a realidade. Uma realidade que só os da espécie dela pareciam ser capazes de enxergar.
Talvez fosse mesmo excêntrica. Sua capacidade de ser feliz a faziam deveras incomum.

quinta-feira, 2 de agosto de 2012

Qualquer História

Vem, amor. Esquece esses medos, esquece essa chuva. Deixa tudo que machuca lá fora, a gente tranca a porta.
Vem, amor. Eu vou velar teu sono, vou ser teu porto. Vou contar qualquer história pra te fazer dormir. Posso inventar qualquer história pra te fazer sorrir.
Se quiser, amor, a luz fica acesa. Ou eu apago, tanto faz. Eu tenho o cobertor, traz teu travesseiro. A noite vai cair do outro lado das janelas, mas desse lado não vai ter escuridão. O nosso riso vai servir de luminária.
Se for te fazer feliz, fique pela manhã. Pela tarde. Vai ficando.
Ou vai embora - pode voltar mais tarde, pode esquecer de voltar, vai ficar comigo de toda maneira. Vai ficando, amor, mas vem.

quarta-feira, 25 de julho de 2012

Óculos-de-sol

Sempre vou me lembrar daquele dia. O sol alto, quente, forte. A estrada passando depressa, as árvores passando depressa, as plantações passando depressa. A vida passando devagar, enquanto eu ouvia Beatles e deixava o vento bater forte no rosto.
É essa a lembrança mais intensa que trouxe daquela viagem: a própria viagem. As dúvidas que me apareciam enquanto os minutos se estendiam sob o sol, as respostas  que eu brincava de encontrar, a sensação do ar entrando e saindo do pulmão me mantendo viva (e tudo o que eu queria era estar viva), a efemeridade da vida que nunca antes me parecera tão bonita.
Perdida na minha solidão acompanhada dentro de um carro, pedia baixinho ao universo que me desse mais momentos como aquele. Eu não fingia, não me escondia, não me preocupava. Pensava de forma livre. Eu era meus pensamentos.
E de repente o automóvel parou. Crianças queriam ver a plantação de algodão.
Eu desci do carro, coloquei meus óculos-de-sol - que têm lentes marrons, porque as cores ficam mais vivas com elas -, os tirei e me permiti admirar o mundo, o dia, as pessoas, o sol.
Voltei para o carro com um único pensamento: "o mundo é como o sol, mais vivo sem os óculos".

sábado, 14 de julho de 2012

Espírito Idoso

Tenho o espírito idoso. Dezenove anos e às vezes me sinto uma senhora. Meu tempo pode ter sido curto, mas minha vida tem sido tão cheia de altos e baixos e baixíssimos que é difícil lembrar que nem adulta sou ainda. Mas eu não sou.
Estou no meu caminho. Aos tropeços; com quedas repentinas; esbarrando em quinas de mesas, portas fechadas e pessoas que cruzam meu caminho; mas no caminho. E é pela mulher em que estou me transformando que preciso me lembrar de que, afinal, são apenas dezenove anos.
Não posso assumir culpas e responsabilidades que nunca poderiam ser minhas. Não posso sentir medo toda vez que um sentimento bom me aparece, porque eu - como qualquer ser humano - mereço conseguir as coisas pelas quais lutei.
Não quero parecer autora de auto-ajuda, nem pretendo dizer o que tantos livros dizem à tantas pessoas em busca da felicidade. Mas muitos dos meus problemas poderiam ser resolvidos se eu me esforçasse para me lembrar de que posso mudar.
E eu tento mudar. Tento escapar da espiral de tristeza em que me joguei há tantos anos. E tenho conseguido. Porém, mais vezes do que gostaria de admitir, ainda me encontro deitada apontando cada erro meu, cada mínima falha que existe em mim. E me esqueço de enumerar tudo o que fiz para consertar o que não era certo.
Acontece que me preocupo demais e penso demais sobre a tristeza. E talvez a tristeza nem exista. Existe a infelicidade, e, com ela, é muito mais fácil lidar. Porque a felicidade está contida nela; está presente até mesmo na em seu nome palavra. Talvez Augusto Curry tenha escrito exatamente o mesmo. E talvez seja verdade.
Na próxima crise, pensarei sobre isso. E depois vou escrever um livro de auto-ajuda e enriquecer. Ou, mais provavelmente, vou aproveitar meu espírito idoso e queimar meu livro numa lareira enquanto faço tricô e penso sobre como os jovens deveriam se preocupar menos. Pois é inegável, nós realmente deveríamos.

domingo, 8 de julho de 2012

Tanto Tempo

Tanto tempo se passou e você não é mais que uma memória.
E isso não é mais que uma grande mentira.

segunda-feira, 2 de julho de 2012

Apenas Mais uma Noite

Essa noite sonhei que eras meu.
Acordei e a dor da saudade me abateu.
Teu nome entalado na garganta
Querendo se esvair, ser gritado.
Mas por meus soluços ele foi abafado.
Minhas lágrimas me enganaram
E por meus dedos escaparam
Tingindo meus olhos de vermelho
Refletindo meu desespero
Ao perceber que ainda amo você.

Eu Fragmentada

Vivo por momentos furtivos, facilmente despercebidos, como um arco-iris na janela que só se vê com o canto do olhar.
Sou feitas de instantes, de flashs, montada guadro a guadro para poder me movimentar.
Uma piscada e deixei de ser, de estar. Nunca sei o que os proximos segundos podem me contar.
Conto minha história por frases, sempre sem continuação ou alguma conclusão.
Sou colcha de retalhos, um trabalho em construção.
A procura do meu lugar, a espera de uma direção para onde caminhar.

quinta-feira, 21 de junho de 2012

Dias de Tédio

Acordo - às vezes - tão viva, que o mundo parece pequeno. Meu corpo parece pequeno. E eu me encontro impaciente e insatisfeita. Descubro uma necessidade de fazer alguma coisa e, ao mesmo tempo, tudo me incomoda.
É quase engraçado, eu, pequena, me sentindo tão grande e enérgica. E então toda a alegria se transformando em irritação, quase que num truque de ilusionista. Porque realmente parece parte de um show de mágica, a metamorfose das sensações.
O problema da intensidade que experimento diariamente é essa facilidade que as coisas têm de se transformar em outras, sempre igualmente intensas.
Intenso de verdade é o tédio. Não há solução, eu fujo e ele me alcança. Eu me distraio e descubro que ele me acompanha. Vejo um filme e o encontro sentado ao meu lado. São nos dias grandes, nos dias de energia, que ele aparece, mais forte do que nunca. E insistente.
E eu acabo presa em dias e dias iguais, que começam bem, mas acabam comigo me sentindo grande, porém irritada, porque nada do que posso fazer parece suficiente para matar essa sede de simplesmente fazer.

terça-feira, 19 de junho de 2012

Procura-se

    Ando pelas ruas da cidade olhando para cima a procura de um rosto familiar. Em cada janela surge a possibilidade de a encontrar. Onde será que ela está? A procuro em cada esquina, em cada carro que está a passar. Sinto um impulso quase que magnético ao olhar para os prédios da avenida, me perguntando ondes estarás escondida, esperando o momento em que nosso olhar se cruzará .
     Passo em "seus" lugares e nos "nossos" também. Fujo dos "meus" que já não me fazem tão bem. Vago a esmo por essas ruas em que me perco. Vou aos tropeços, por não olhar pro chão. Na esperança de acha-la nessa multidão.

sexta-feira, 15 de junho de 2012

Libertação

Não saber o que dizer e escrever mesmo assim porque se sente aflita com a brancura quase inocente do papel enquanto se desmancha em lágrimas, soluços e tinta de caneta. Toda errante, borrada. Marcada pela mágoa eterna de querer o que não pode ter. Transfere as dores para o papel com o anseio de aliviar o coração. Pela caneta procura a redenção.

quinta-feira, 14 de junho de 2012

O Envelope Marfim

Ela escreveu: "não dá mais para seguir. Ainda amo você, quero você. Mas não quero me conformar com o pouco que você me dá.
Cada palavra me dói te tal forma que, se eu as escrevesse na própria pele, com meu sangue, não me machucariam tanto. Mas eu preciso ir. Preciso pegar cada um dos pedacinhos do meu coração (que despedaço enquanto lhe escrevo) e ir em frente. Sozinha.
Meu amor, não sei o que vou fazer sem você. Não sei como vou acordar, comer, me lembrar de tentar melhorar. Não sei se vou ser capaz de esquecer dos seus beijos, das suas mordidas, dos seus abraços, da sua pele. Não acho que algum dia vou ser tão feliz com alguém quanto sou com você. Ou melhor, quanto fui. Porque estou deixando isso pra trás. Vou procurar a atenção de que preciso.
Sei que parece fútil, mas é atenção o que me falta. E um pouco de compromisso. Porque eu quero ter tudo o que você não pode me oferecer devido à nossa situação. Desculpe-me, meu eterno amor, eu não quero que você sofra. Mas não quero sofrer, tampouco. E sofrimento é o que me espera se eu ficar. Eu quero um relacionamento sério, oficial, com esperanças para o futuro, entende? E eu mal posso acreditar que realmente estou fazendo isso. Eu amo você demais.
Acho que não era a hora para nós dois. E já é muito tarde para que a gente possa esperar, essa espera seria um passo para trás; e eu não posso mais lidar com eles.
É isso, querido. Estou indo embora. Estou deixando aquele que mais me importa. Estou deixando meus pedidos de desculpa e minha chance de viver um grande amor. Porque eu preciso de um relacionamento, não de um romance. Só por isso. Talvez eu devesse ficar e tentar, mas sou incapaz de passar por mais dor. Só posso desejar que você não sofra tanto quanto eu e que seja a decisão correta.
Amo você, talvez um dia você descubra o quanto.
Eternamente sua, D."
Então ela colocou a carta em um envelope marfim, que deixou sob a porta de entrada da casa dele, pegou suas malas, entrou no trem e partiu.
Anos depois, ela lembrava daquelas malas, daquele trem, daquela carta, daquele amor. E desejava ter ficado. Porque não era o que ela queria, mas era quem ela queria. E talvez tudo pudesse ter sido solucionado; se eles tivessem tido tempo, se eles tivessem conversado. Se ela ao menos tivesse ficado. De qualquer forma, nada teria doído mais do que aquele envelope naquele tom mórbido de marfim seguido por todos os anos de arrependimento e dúvida.

quarta-feira, 13 de junho de 2012

Nós dois somos poesia

Meu coração disposto a amar,
Encontrou o seu, disposto a respirar.
Então você expira, amor
E me inspira amor.

terça-feira, 12 de junho de 2012

Caça-Palavras

HUWEOBJUQWIRNAEOMAWIAMRTSUANROFALARUWNSAZXCBOIUTVEGUEHOWAMRTOAMORCOMERTANTOMNERHFGKJPLNADZERSAUDADEVOCEQNGTOAMRNAGDFPRAYTIOMNASFRETABIJKLAZSEZASRPOTTUYANGBKEAVCBNHCOMOQWERTYUIOPLKJHGFDCVBNMOIUTRIOSINCERIDADEALPOZAWPOEIRJFNVCMBRINCARQAZXCRTGBNJIOLMENTIRASMNBVGYJDEOIUYTREDFGHJMBVCPOIQIAUDNBUANJCAÇAQOIAUSNDHWJZSASDRETREEINORTLÇADMIRAÇÃOPALAVRASPOERTANHDIZBXMFJNMSNJROQCIUMESIEJRBABVAJDLRPRUWHBSMFSEMPREMOESTUYRAVSNQOWEURBDSNCPOEIASECALEÇTEMFDHJKLOIUYTGNCXASDFGHJLPOIUYTREPOIQSDFGBVCXDFTYUVÇMAISOQWIBBAIHFRABSKFKGPOIUASNBFOEUTQUEDLUXPMSZGQCONHECIMENTODONAMDEOEYTRBVNSLWJRHDPOUYHRBSBAOXKQOWURHCBSBTEMPOPORHOJFBAPELMKQUEPOIUYTRGHBVCXZASDFGOMAZUPOOSPOIHBVAKQJUEBKAPWEFBAVDJVHQVOOAHEBDJSOLHOSDASPONSGFPWHAVAOISBAVCZÇDQPOUSAVZXOCHDBDESCOLHASAZXFPDOEFJSKCBFJFPODEMPLKNBVCFATYQOWIUFRYGVBCNXKAKOWIEUYRGHFJDKSAXÇZNAVERQPJDBBUSGFYWGOSBCKJABIWHRFIAGJABKLJNWOPHRFUABDHCBJEGOISMOPQKZXNBVCJWITYRVVBHFDUBELEZAHEWQMJEIW

O que mais vocês conseguem ver?

quarta-feira, 6 de junho de 2012

Lúdico

Brincando de ilusões
Fazendo sombra em paredes
Formando mentiras
Criando refrões.
Uma dança das cadeiras
Uma ciranda a dois.
Brincando de pique-esconde com nossas emoções.
Pique-pega de motivos e razões.
Uma hora sou eu outra é você o ladrão.
Nosso faz de conta inacabado
Um sonho abandonado.


Consciência

- Fica calma. Fica forte. Lembra de quem te adora. Esquece o imutável. Respira.
De novo.
Deixa de se sentir egoísta, você também tem o direito de ficar triste. E de ficar feliz. Larga a culpa.
Eu sei, ainda dói.
Abraça a dor.
Chora.
Mais um pouco, você precisa tirar um pouco do que te faz mal do peito.
Ninguém liga se você parece criança. Ninguém precisa saber que você abraça seu ursinho de pelúcia quando sofre.
Lembra de que já sentiu dores mais fortes. E tá aí: viva, inteira.
Come o que te agrada. Ouça o que te faz bem, o que te faz dançar. Dança sozinha à luz da lua.
Pega essa dor, faz algo com ela. Transforma em arte. Transforma em poesia. Transforma no que te parece bonito.
Escreve sua verdade.
Agora, fica calma, Carolina. Fica forte.

segunda-feira, 4 de junho de 2012

Dores de Dolores

Diziam que Dolores gostava de sofrer. Não era verdade, ela simplesmente se acostumara com a dor - tanto que não sabia mais separá-la de sua essência. Dolores abraçara o sofrimento como parte fundamental do quebra-cabeças que era e parte intrínseca à sua pessoa.
Pode-se dizer que a menina em caminho de se tornar mulher não conseguia ser feliz. Sua felicidade findava quando as noites tinham seu início e, sozinha, sentia seu corpo doer sob o peso de sua carga: uma tristeza profunda.
Os dias eram um pouco menos doloridos. Ela escondia tão bem seus sentimentos que quase era capaz de acreditar que sua vida era satisfatória. Mas não era. Dolores queria mais e era esse querer que a tornava tão infeliz. Seus caminhos eram sempre alterados por volta da metade, suas decisões eram tomadas permeadas por incertezas. Ela acreditava que sua confusão constante era a causa e, principalmente, a consequência de seu gênio tão incompatível com a felicidade.
Dolores tinha cicatrizes - literais e não - tão profundas que a faziam acreditar ser insuficiente para todo e qualquer ser humano que a rodeava. Cicatrizes que ela fazia questão de transformar em feridas abertas que sangravam - talvez o sangue e suas lágrimas pudessem livrar sua existência de toda impureza e dor presentes até então.
Existência era a única palavra que aceitava usar quando se referia à sua vida. Porque não vivia, passava pelos dias com vontade de morrer. Porém as manhãs continuavam chegando, lançando a menina em outra encenação.
E as pessoas ainda diziam que Dolores gostava de sofrer, quando tudo pelo que ela pedia era uma forma de separar o sofrimento de sua personalidade. Mas, pobre menina, se até seu nome era um conjunto de dores, como poderia ter esperanças de se libertar das correntes que eram suas dores?

sexta-feira, 1 de junho de 2012

Eu choro

Sou do tipo que chora.
Por causa de fins, começos e meios. Pelo mau e pelo bom. Pelo feio e pelo bonito. Nunca como uma forma de chantagem emocional covarde e baixa. Minhas lágrimas simplesmente explodem quando as emoções são fortes.
Fico brava e as lágrimas raivosas escorrem. A tristeza parece me afogar. Até mesmo a alegria me inunda de forma tal que a água abre passagem para fora dos olhos. Vergonha e orgulho são a mesma coisa quando se trata dos meus choros. E amor provoca soluços intensos. Sentimentos viram lágrimas, simples assim.
Eu choro com sinceridade e sem vergonha. Choro e minhas lágrimas molham minhas roupas e bochechas.
Para evitar uma imagem de frágil, tentei conter essa cachoeira que sou. Desviei o rio, tentei construir represas. Em vão. Meus sentimentos são sempre à flor da pele. O coração sempre aberto; aliás, sempre exposto. As lágrimas são tão frequentes quanto o inspiraexpira da respiração. Tão involuntárias quanto. Naturais, espontâneas, necessárias.
Acabei aprendendo a aceitá-las. Elas são características minhas, são pequenas provas de que sou capaz de sentir e de que sou forte suficiente para admitir o que sinto. Quando o coração transborda, as sensações me escapam pelos olhos. E eu me encontro encarando o que quer que seja com minha forma quase frágil de ser forte: chorando, mas de cabeça erguida.

quarta-feira, 30 de maio de 2012

Oração

"Que dure enquanto for bom para nós dois" foi minha prece involuntária enquanto eu via um filme com minha mão na dele. Foi a primeira vez que pedi com palavras o que já dizia com meus atos.
Cada beijo, cada abraço, cada um dos meus dedos que apertam os dele. Cada fio do meu cabelo que parece sempre voar para seu rosto. Cada sorriso e pensamento. Cada batida do meu coração. Cada pedacinho de mim pertencente ao "nós dois" é uma oração.
Minha mente, meu corpo, minha alma desejam o que realmente era meu pedido durante aquele filme: que dure enquanto for bonito e, principalmente, que possamos encontrar beleza para que dure mais um pouco. Porque meu amor é infinitamente grande. E, se minhas orações forem atendidas, infinitamente dele.

domingo, 27 de maio de 2012

φεγγάρι

Faço-me Estrela por você.
Apareço ao anoitecer, te fazendo companhia.
Para ao raiar do sol me esconder.

Sois Lua, alva e majestosa no céu.
Imcompreendida musa dos amantes.
Disse solitária, mas se olhares em volta me verás replicada,
Copiada só para te acompanhar. 

Almejas a Terra, tão distante de ti.
Romantizas teus reflexos em águas azuis e turbulentas.
Mas diferente de Narciso não podes se afogar, por si mesma se apaixonar.

Falas mal dos outros planetas
Os quais não costumas contornar.
Minguas ao ver tuas irmãs luas a brincar.

Virás criança depois do anoitecer
Pintando de branco o céu, até o alvorecer.
Me ofuscando, sua Estrela, sem saber.


terça-feira, 22 de maio de 2012

Quimera

Em momentos de profunda concentração perco o foco e não sei dizer se estou dormindo ou não. Minha percepção não é mais consciente, se é que se faz presente. Não consigo mais discernir o que é sonho , realidade ou meu desejo real.Olhos desfocados procurando um ponto para se fixar, um lampejo de algo para me situar. Nada é o que costumava ser, mas também não me é estranho, novo. Já estive aqui antes.

segunda-feira, 21 de maio de 2012

Nós-líricos.

Nós escrevemos. Sobre ninguém, para ninguém. Escrevemos num ato solitário de quem tenta reconhecer o mundo dentro de si. E então nos lêem. Nossos mundos particulares expostos numa vitrine; que nos julguem, que nos comparem, que nos escolham. Nossa solidão tão dolorida e prazerosa acompanhada por quem lê, as idéias se misturam, os mundos se misturam. As frases se misturam.
Nossas mentes conturbadas e inquietas sempre distintas das dos que convivem conosco encontram semelhantes quando são lidas. E quando lêem.
A escrita é, antes de tudo, leitura. Lemos o mundo, as pessoas, os sentimentos. Lemos livros, textos, jornais e bulas. A palavra escrita, a falada e a pensada. Amamos as palavras.
Temos uma necessidade de atenção: não como indivíduos, como escritores. Passamos pelos dias como fantasmas, aceitamos estar à margem. Mas nossos escritos nascem para serem lidos. Mesmo que por nós mesmos. Engraçado como a atenção que desejamos costuma ser a nossa. Acontece que, no nosso afã de compreender o ser humano, costumamos nos esquecer de nos definir como indivíduos.
Somos egoístas de uma forma não-individualista: procuramos o todo em nossos interiores, a ponto de nos esquecermos de nós. Acreditamos que somos o universo, que o universo é nosso íntimo.
Escrever se torna uma forma de compreender a dimensão abstrata conhecida como realidade. Nossas cabeças cheias de nós - daqueles difíceis de desatar - procuram sentido no aleatório ao nosso redor. Nossos nós continuam embolados, mas fazemos deles nossos bens mais preciosos: nossas inspirações.
E então nós escrevemos.

sábado, 19 de maio de 2012

Labirintos

Não há novelos de lã dourada em meu labirinto que possam me mostrar a saída.
Não foi projetado por ninguém menos do que eu.
Meu minotauro tem outro(s) nome(s).
Fiz questão também de me perder dentro dele.

Sem saída, sem norte, sem cantos. Apenas um emaranhado de mim.
Meus medos, anseios, dúvidas me perseguem desde de que aqui entrei.
Vago a esmo nesse mundo que é tão meu. Mas de tão meu não o conheço.
Feito de lágrimas e desilusões. Meu castelo de cartas que nunca ruirá.

Em seu centro pus meu bem mais precioso.
Não é meu coração, esse já o dei a muito tempo. Nunca o recuperei.
Falo de minha razão, meu juízo. Meu eu dos eus.
Aspiro chegar ao coração de meu labirinto para quem sabe vir a me reencontrar.
Não há pressa em chegar ou sair de lá.
Mas a ideia de tempo é vaga. Por certo incerta.
Como um sonho.

sexta-feira, 18 de maio de 2012

O Grande Amor de Bruno

Bruno chegou em casa alegando estar apaixonado. Resolveu apresentar a pessoa que amava aos seus pais. Contou que, quando a encontrava, seu coração acelerava e suas pernas tremiam. Contou como eram doces os beijos pela manhã quando se encontravam após o final de semana. Que quando a pessoa declarava seu amor, o mundo parecia fazer sentindo e toda a sua vida parecia ter sido escrita para que aquele momento acontecesse. Que o sorriso tão amado era a razão do seu. Que seu coração parecia transbordar de tanto sentimento.
A mãe de Bruno se preocupou, teve medo de que seu filho estivesse sendo enganado por uma menina baixa. Ele lhe explicou que acreditava cegamente no amor que os dois sentiam, quando se abraçavam os corpos pareciam se encaixar e os corações batiam em sincronia. Ninguém poderia ser capaz de forjar um sentimento tão intenso. A mãe sorriu: qualquer um que fizesse seu filho tão feliz era uma boa pessoa.
O tempo passava e o sentimento crescia; os dois eram prefeitos juntos, os dias compartilhados eram a melhor coisa da vida do casal. As discussões eram resolvidas com conversas e beijos, a rotina os aproximava, as bocas sorriam sempre mais.
Bruno resolveu se casar. Queria formar uma família com o amor de sua vida. Teve três filhos, quatro cachorros. Sua vida era mais feliz do que jamais esperara quando falou de seu grande amor aos pais. Naquele dia, teve medo de ter seu relacionamento desaprovado. Sim, sua vida era feliz. Perfeita, talvez. Ele, seus filhos, sua casa, seu Paulo. Era o amor de Paulo que o levara até aquele estado sublime de alegria duradoura.
Por Paulo, Bruno deixava de ouvir o que diziam sobre o relacionamento deles: o amor pertencia aos dois, e nada mais importava.
E quem se atreve a dizer que o amor seria mais bonito se, no lugar de Paulo, Bruno tivesse uma Paula? Nenhum sentimento é mais puro que o amor.

domingo, 6 de maio de 2012

Mémórias de Um Romance

Palavras me fogem como folhas ao vento. Se embaralham formando poesias sem sentidos mas com muitos sentimentos. Perdidas em redemoinhos de inspiração e quando sossegam formam o teu rosto, tua imagem por meus olhos e memória. Não lembro o timbre de tua voz, ou a macies de tua pele, mas nunca esqueci o turbilhão por ti causado dentro de mim a cada vislumbre teu.
Meus olhos te seguiam brincando , fingindo não o fazerem, mas sempre esperando reconhecimento, um meio sorriso ou até que seus lábios dissessem meu nome para que minha semana ficasse perfeita.
Ter por ti minha existência reconhecida era inimaginável, um sonho distante trancado em meu peito a sete chaves com a certeza de que nunca se tornaria realidade. Tinha consciência de que nunca fui certa para você.
Mas provaste-me errada, por um curto pedaço de tempo, a distancia de um sonho, fui tua e fostes minha também. Não foi pleno e nem eterno durante a duração, me queimou, doeu. Era amor de verdade. Sem ideal de efemeridade ou ânsias homéricas. Até que ele se modificou e passou a desejar e crescer. Queria ser mais.
Passou a ser arrebatador, a queimar por dentro e me consumir o ar e a razão. Encontrei-me louca, apaixonada, desvairada sem um pingo de contrição.Em teus lábios, em tuas palavras encontrei minha perdição.

sexta-feira, 4 de maio de 2012

Meu Menino

Um dia, você entrou na minha vida, com seu jeito único de me fazer sorrir e sua habilidade de dizer exatamente o que preciso ouvir: sempre a coisa errada, a piada boba, a brincadeira ridícula.
Você, que foi tão pequeno e frágil, acabou se revelando como minha maior força. Era porque você chorava que eu me forçava a sorrir e tentar consertar a bagunça em que sua vida tão curta se transformara. Foi porque senti que você precisava de mim que esqueci que eu sofria e que também era uma criança. Ainda é assim, deixo de me importar comigo se você precisa da minha atenção.
Você, já tão perto de deixar a infância, me parece aquele bebê para qual passei meia hora olhando quando chegou em casa. Hoje sinto uma necessidade maior de te proteger do que senti naquela tarde. Talvez por hoje eu saber que você é uma das pessoas mais importantes da minha vida, uma das mais indispensáveis. Talvez por saber que você passou por mais tristezas do que aquele bebê merecia.
Uma das minhas lembranças preferidas é aquela vez em que você escreveu uma redação em um trabalho da escola sobre uma pessoa importante. Saber que você me escolheu dentre todas as que vivem contigo fez meu coração tão mais alegre!
Por vezes sou dura demais. Espero tanto de um menino pequeno, eu sei. Mas todas as noites desejo que você nunca duvide do amor que sinto, amor tão profundo que me permitiria fazer qualquer coisa para te fazer feliz.
Você merece ser feliz. Porque é o menino mais doce, a criança mais inteligente, a pessoa mais bonita que já conheci. Porque é muito mais do que eu costumava pedir e imaginar. Porque é o meu e o melhor irmão.

segunda-feira, 30 de abril de 2012

Vontade

Maurício acordou com vontade de tomar sorvete. Vontade de correr descalço, de dançar na chuva que batia forte em sua janela, de cantar músicas tolas e de se declarar. Tomou banho, tomou seu café da manhã que tinha gosto de papelão, pegou seu carro e foi ao trabalho.
O escritório, como em todos os dias, o fez querer sair correndo. "Um dia vou tomar coragem e fazer algo de que realmente goste" pensou Maurício, como em todos os dias.
O dia transcorreu normalmente: cinza. E não aquele cinza bonito, pesado, saturado de emoção e sentimento; era o cinza que passa sem que mereça um segundo olhar, o vazio. Mas as vontades continuaram. Amanhã. Amanhã. Amanhã. Maurício sempre deixava para amanhã.
Fim do expediente. Academia. Mercado. Casa. O silêncio. A solidão. Ele não podia aguentar mais uma noite tão igual às anteriores. Carro. Sinal vermelho. Motorista bêbado.
Maurício morreu com vontade de viver.

domingo, 29 de abril de 2012

Carta Aberta aos Conselheiros de Plantão

Vocês me avisam. Sempre estão avisando, aconselhando, protegendo a menina que sou dos perigos e dos erros. E nenhuma alma sequer tenta enxergar que eu não quero ser protegida.
Entendo os riscos que corro ao me jogar de cabeça em todo e qualquer sentimento, mas eu desejo as sensações que eles me trazem. Sei que posso me machucar, que estou pedindo por um coração partido, é assim que eu sou.
Sempre escolhi os caminhos difíceis, os que poderiam me fazer mais feliz. Não é agora que vou mudar. A felicidade clama por perigos. Já dizia o ditado: quem não se arrisca, não petisca.
É óbvio que sinto medo, que por vezes me pego pensando em como seria se estivesse abraçando o seguro. Mas encontrei tudo o que pode me fazer feliz - o que já me faz feliz! - e não estou disposta a deixar a dúvida vencer; não quando a maior certeza que tenho é meu contentamento.
Então que falem. Que avisem. Quando as manhãs começarem, eu vou abrir bem os olhos e me jogar nas sensações. Porque prefiro ouvir "eu te avisei" a pensar que minhas chances passaram por mim e eu acenei de longe.
Compreendo, vocês querem o meu bem. Mas o coração é meu, vou quebra-lo quantas vezes forem necessárias para achar as escolhas certas. Quem disse que não são as que já fiz?

sexta-feira, 27 de abril de 2012

Assombrada

Escrevo textos que sei que nunca vou ter coragem de publicar, textos que são uma versão resumida de mim, textos que não me dizem nada a partir do momento em que os termino. Escrevo sobre sonhos, vontades, lembranças, sentimentos, minha visão distorcida da realidade.
Eu me viro ao avesso, dou tudo de mim, desafogo minhas mágoas, mergulho minh'alma em sensações. E nada parece ser o bastante. Nada me sacia.
Então minhas palavras me assombram, transformam minhas madrugadas em longas horas em que escrevo, mas nunca se satisfazem. Suspeito que elas são seres míticos nascidos exatamente para me atormentar, me desafiar. Seres criados para me fazer escrever. Porém nunca me saciar.

sexta-feira, 20 de abril de 2012

Chato, chato, chato

Eu reclamo de você e digo que espero que nem vá à aula. E todo mundo pode ver que estou simplesmente sentido sua falta.
Eu discuto com você, jogo bolinhas de papel, disfarço (absurdamente mal) os olhares em sua direção. E todo mundo pode dizer que quero ficar perto de você.
Você me abraça (tão pouco) e eu não quero mais te soltar. Mas sorrio e digo tchau. E todo mundo pode ler na minha expressão que queria que você ficasse.
É de uma forma um tanto infantil que me comporto ao seu lado - faço bobagens, digo o oposto do que quero dizer, rio o tempo todo.
Você, com seu jeito irritante e, principalmente, sua inteligência, me fez esquecer que não sou mais criança o bastante para me apaixonar assim. E eu, menina boba que sempre fui, de repente me vi com o coração na mão - que está estendida para você - e mil vezes a palavra chato pronta para ser atirada à sua pessoa. Não que eu ainda tente evitar esse sentimento, até você já deve saber que toda vez que te chamo de qualquer coisa, espero em troca só um pouco da sua atenção, além de um sorriso inteiro só para mim.
Se você quer saber, nossas brigas são incrivelmente divertidas para mim. E eu adoro quando você olha meio exasperado, meio divertido e diz baixinho como quem zomba "me ama demais". Gosto também quando você chega atrasado na aula e eu posso olhar para você como quem não quer nada. E, preciso admitir, eu seria incapaz de chegar ao fim de um dia sem suas implicâncias usuais.
Eu só desejo que você saiba como me sinto. Porque você é um chato, mas o chato mais incrível que eu já conheci.

quinta-feira, 19 de abril de 2012

Água com açúcar

A tristeza tem gosto de água com açúcar.
Criança ainda, costumava imaginar com uma curiosidade mórbida como parecia ao paladar a bebida do sofrimento, tão típica dos melodramas da televisão. Criava as possibilidades, mas não a bebi: era o líquido que acompanhava as lágrimas, mesmo sabendo que deveria ser o extremo oposto delas, que eram, afinal, apenas água com sal. Não a bebi pois tinha um quê de intocável, quase místico, não devia ser bebida em vão.
Porém foram poucos os anos vividos com a dúvida. Um dia veio a morte - não tão repentina, posso ver hoje, mas, para uma menina, definitivamente brutal - e me engasguei com o conteúdo do meu copo. Mesmo nove anos depois, não posso dizer se a causa foi a tristeza ou a água com açúcar.
Estava bebendo e pensei, enquanto o sal saía e o açúcar entrava, que o que eu realmente precisava era de água. Pura, limpa, sem nenhum traço daquele sabor adocicado que zombava da minha dor mesmo enquanto tinha o gosto da podridão da morte. Então me vi tossindo, cuspindo, chorando, desesperada para arrancar de mim tudo que feria tão profundamente
Ainda hoje, semelhanças se fazem presentes nas duas: carregam em si uma espécie de prazer - o sentimento carrega uma poesia tal que acaba por servir de berço à inspiração, o líquido carrega um sabor que pode ser agradável, herança do açúcar presente nele - e ambas possuem naturezas dúbias; fortes, mas, por vezes, plácidas. Agitam, acalmam, bagunçam o seu ser. E acabam por transformar a mente curiosa de uma garotinha em uma inquieta, porém dona de uma certeza: a tristeza tem gosto de água com açúcar.

domingo, 15 de abril de 2012

Bloqueio Poético

Aquele ímpeto de escrever
Ideias borbulhando
E o papel rindo de você.

Valéria

Tem uma aranha morando na janela do meu banheiro. Para fins inexistentes, digamos que seu nome é Valéria.
Não sei muito sobre Valéria. Ela anda bastante, costuma me encarar, gasta seu tempo livre me aterrorizando e tem sempre por perto uma bolinha de teia que pode conter seus filhotes ou sua comida (ou, mais provavelmente, os dois, tendo em vista que ela é membro ativa do grupo dos aracnídeos demoníacos).
Enquanto eu tomava banho hoje, fechei os olhos e repeti para mim mesma o quão irracional é meu medo da pequena e cruel Valéria. Claro que depois de dois minutos entrei em desespero e precisei me certificar diversas vezes de que nenhuma amiga dela estava perto de mim.
Viver é tomar um banho de olhos fechados quando existe uma aranha na janela. O medo é constante, as incertezas te assombram; mas, vez ou outra, pode se ter a sorte de não cruzar com seus pesadelos.
Acontece que são os momentos terríveis que fazem o alívio ser real. Talvez seja a tristeza nada mais que a condição necessária para que a felicidade nasça.
Quem sabe se Valéria não é o que dá sentindo na vida? Mas, já digo antes que me perguntem, eu prefiro que Valéria se mude para outra janela. Ela pode dar sentido à vida de outro alguém - alguém que realmente a aprecie e não fique mortalmente apavorado.

segunda-feira, 9 de abril de 2012

Autorretrato

Sempre pequei pelo exagero. As sensações transbordam em mim, tudo que faço é com total entrega. Prefiro me manter quase que verborrágica a tentar me fechar para o mundo.
A visão que tenho dele também beira ao exagero : para mim, ele é grande - tão absurdamente grande! - e não importa se sou o centro ou uma simples coadjuvante, tudo parece tão extenso e o único limite entre minha individualidade e a energia que flui livre ao meu redor é aquilo que escrevo.
Nem mesmo posso explicar o porquê de escrever: em parte, para provar que realmente existi em algum momento. Em parte, pela necessidade de arrancar as idéias de cima de mim, elas me sufocam, me desesperam, me inundam. Na maior parte do tempo, pelo prazer da palavra escrita, prazer esse sempre tão doce, tão profundo.
Quero o prazer em tudo, como bom espécime exagerado da raça humana que sou. Procuro beleza: em mim, nos outros, nas coisas, nas tentativas frustradas.
Necessito. Sempre necessito. Tenho fome de conhecimento, de cultura, de amor, de dor. Sinto vontade de me encontrar e então me perder.
E por falar em perder, cá estou eu, perdida nesse mar tantas vezes navegado, em minha mente.
E as palavras fluem livres. Ou seria a energia do mundo? Ou seriam minhas idéias? Ou seria eu?
Procuro a instabilidade e as dúvidas. Porque não quero o conforto. Quero a poesia. Quero o desespero. Quero a felicidade sublime. Quero a liberdade.
E que venham a prolixidade e o exagero. Estou de portas e braços e mente abertos para eles, para mim, para o Todo e para as partes. Ah, o Exagero!

domingo, 8 de abril de 2012

Ao Nosso Começo (ou ao que espero que seja)

Eu poderia ter virado as costas, não ter conversado contigo e ainda estaria em uma posição confortável. Mas não fiz isso.
Foi um gesto impensado, mas quem poderia prever o que aconteceria a seguir? De que forma eu poderia adivinhar que você revelaria ser alguém tão inteligente e gentil? E que, além de se tornar mais bonito a cada dia, você pareceria tão certo dentro da minha vida torta?
Antes de abrir espaço para você nos meus dias, acreditei que estava no caminho certo, que eventualmente viria a me apaixonar por determinado rapaz, e, sem sequer pensar, acabei me jogando de cabeça nessa situação. Porque meus pensamentos  ingênuos me perguntavam que mal poderia haver em mais um amigo.
Claro que, quando te conheci, vi que era bonito e que um "nós" não seria nem um pouco ruim, mas a convivência me mostrou mais de você do que eu imaginava existir. E agora me pego olhando na sua direção enquanto imagino se você poderia pensar em mim de outra maneira.
Não digo que me apaixonei. Tenho dúvidas quanto a isso, já que, quando você está longe, quase me esqueço desse sentimento que tem se aflorado em mim. Por outro lado, quando você chega - e eu nem sequer tento me enganar, estou sempre esperando - , uma certeza de que você me faria feliz se instala dentro da minha cabeça.
Sei que misturei as coisas e sou a única que se sente assim, mas não me arrependo: só por saber que existe aquele que se infiltra em meus pensamentos e deixa tudo tão mais bonito (porque reflete seu jeito), eu ignoro os pesares de gostar de você como comecei a fazer e dou graças ao que quer que tenha me permitido te encontrar.

sábado, 7 de abril de 2012

Julieta

Pegue seu carro, vamos sair desse lugar. Ninguém esteve tão fundo em meus sentimentos, não devemos a ninguém. Nós dois podemos fugir.
Então pegue seu carro e dirija. Em frente, em frente, em frente. Não liguemos se surgirem curvas ou desvios. Escaparemos com vida (vida é ter você ao meu lado).
Eles não sabem da verdade, não sabem que seu nome não faz diferença, uma rosa teria o mesmo perfume se não fosse chamada assim. Eles não sabem que só vejo você.
Continuaremos a correr, não precisamos voltar. Em frente!
Então nós dois conseguimos. Tão longe de casa, tão perto do "felizes para sempre".
Mas, ouça!, são eles! Nossos pais, nossos futuros, nossos fantasmas. Querem nos separar. Estamos encurralados nesse quarto escuro!
Então pegue seu punhal e me atinja. Nenhuma morte seria mais doce. Beba desse veneno, então. Mantenha-o em seus lábios. Beije-me. Em frente agora, meu amor.

Numquam

Se eu disser que nunca a amei estarei mentindo.
Se eu disser que nunca me arrependi estarei mentindo.
Se eu disser que nunca quis estarei mentindo.
Mas nunca duvide do quanto te amei.
Nunca duvide de que nunca a esquecerei.

sexta-feira, 6 de abril de 2012

Sobre o mesmo par de olhos verdes

Seus olhos verdes ainda parecem tão bonitos quanto pareciam àquela menina que outrora fui. Vê-los tão inesperadamente fez meu coração se agitar muito mais do que imaginei que aconteceria. Não que eles tenham dado qualquer sinal de reconhecimento.
Em todos os três segundos e meio em que olhei para eles, as memórias surgiram. A lembrança do ritmo dos nossos corações que batiam em sincronia, da textura dos seus cabelos, do calor dos seus abraços, do formato das suas mãos. A lembrança da sensação de amar tão intensamente. Tudo de volta em um espaço de tempo tão pequeno.
Você me conhece bem para adivinhar que meus pés pararam de obedecer à minha cabeça - que permanecia virada para tentar te ver melhor - e tropeçaram em coisas inimagináveis. Também me conhece o suficiente para concluir que eu escreveria sobre nosso (rápido) encontro; sei que teria previsto o texto e meus sentimentos conturbados caso seus olhos me reconhecessem. Sei que entenderia o quanto senti sua falta.
Acho que eu devia simplesmente aceitar que, não importa quão magnífico ele pareça, seu olhar nunca vai cruzar com o meu e desejar repetir nossos erros. Porque eu sei - eu sempre soube - que nós dois éramos apenas erros. E, como você, eu não quero voltar. O que nós tivemos acabou, nossos sentimentos acabaram de forma quase indolor. Mas são seus olhos que me fizeram esquecer que não te amo mais e que provavelmente nunca mais seria capaz de fazê-lo. Meu mal, sempre foram seus olhos que me enganaram.

terça-feira, 3 de abril de 2012

Análise de Um Sonho e Flocos de Neve

Sonhos.
O que são sonhos? Desejos do fundo do seu coração, lembranças, influencias reordenadas do seu subconsciente?
Na verdade não importa o que eles são. Se eles são felizes, estranhos, egoístas,complexos, dadaistas, cópias, sensoriais, recorrentes ou em estrofes. O que importa é que os tenhamos e melhor ainda, que eles se tornem realidade.
Hoje eu tive um sonho muito aleatório, com personagens fantásticos, complexos que tenho o orgulho de admitir existem no mundo real. Até aí tudo bem, acontece com todos sonhar com coisas do seu dia-a-dia,mas o que me surpreendeu foi a vivacidade desse. Eu nunca tinha me sentido tão viva, tão parte de algo como nesse sonho. Quem dera tivesse sido real. Quer dizer, ele foi real ali, naquele momento em que estava dormindo. Mas foi tão real quanto as palavras aqui escritas, quanto as teclas em baixo dos meus dedos ao digitar. Foi um sonho completo, gostoso de sonhar. Não explorei lugares inimagináveis, não lutei com heróis ou dragões, não conheci seres fantásticos que habitam tantos livros que li. Não voava, não falava em línguas mágicas, não era nada especial. Era simplesmente eu, sem tirar nem por. Minhas falhas, meus méritos, minhas manias. Os meus companheiros não eram tão bem formados, mas diria serem copias dignas dos originais. O tempo era frio, chuvoso, quase a ponto de nevar, mas até onde fui não caiu nem um floquinho de neve. Era noite, noite vagabunda dessas onde não há nada para se fazer além de sair, conhece-la. Era uma noite infantil, plácida. Comparo-a a um rio congelado. Calmo e firme por fora, mas por dentro suas águas ainda correm, apenas de maneira mais silenciosa. Havia uma tensão no ar contagiante. Como se o mundo todo estivesse prendendo a respiração a espera de algo grandioso e magnífico. Foi um sonho em cores e sons. Mas se eu fosse torna-lo um filme colocaria-o em preto e branco para aumentar a dramaticidade, talvez reduziria os sons também. Deixasse somente os ruídos dos meus passos ao caminhar, dos copos batendo na mesa e uma musica de fundo. Diálogos seriam travados entre eu e uma segunda pessoa que estaria nas sombras, não veríamos seu rosto,apenas seus pés, mãos, uns olhares com closes da camera e em alguns momentos relances do que poderia ser. Esses diálogos transcorreriam com gestos, com olhares e com mudanças da musica de fundo. Efeitos especiais inexistentes, no máximo talvez colocasse o tal floco de neve, que nunca caiu, no final dos créditos. Meu set de filmagem seria uma rua a noite e pronto. Nem figuração seria necessária.
Talvez fosse pretensioso de mais de minha parte imaginar esse sonho tão simples e cotidiano como digno de um Urso, de uma Palma de Ouro ou de qualquer outra estatueta. Mas sonhar não custa nada, então sonharei com isso também.
Desse sonho o que mais gostei foi da intimidade retratada através de um diálogo. Do como estava confortável para simplesmente me abrir com alguém. Falar dos meus medos, anseios, falar de meias por que não?
Era tão aconchegante tal atmosfera por mim criada, sem saber, que quando acordei senti falta. Foi como se não estivesse pronta para sair daquela rua, encerrar aquela conversa ou nunca chegar a descobrir se ia nevar ou não. Sim, colocaria o bendito floco de neve para pelo menos dar uma sensação de conclusão, de dever cumprido.
Seria um curta pois quão longo poderia ser esse filme? Até para mim foi um curta metragem, mesmo sabendo que sonhei 120 minutos aproximadamente. Para vocês verem tamanha era a quantidade de detalhes.
Perdoem me, divaguei tanto sobre tal sonho que me peguei sonhando de olhos abertos, coisa bem comum para minha pessoa. Quando não estou sonhando estou pensando no que sonhei.
Sonhos são minha realidade particular, meu mundo idealmente errado, ao contrário.Perfeitamente imperfeito, mas sem neve aparentemente. Uma pena.

domingo, 1 de abril de 2012

Acontece

Assim é como começa: você chega em casa sorrindo. O dia seguinte parece muito distante. Seu braço ainda parece formigar onde ele te tocou.
Vocês se encontram e você se pergunta como não o achava bonito. Ele sorri e até os dentes tortos parecem muito charmosos.
Não, é claro que você ainda não se apaixonou. Isso só acontece quando ele fala de filmes europeus. Sim, acontece com todas nós.
Então vocês se aproximam. O suficiente para que ele não saia mais da sua cabeça. As conversas tão inteligentes te mantêm acordada durante as noites e todas as músicas de amor parecem escritas especialmente para você - como seria diferente?
E as coisas permanecem assim, um misto de doçura e angústia. Até que ele se apaixona. Não, não por você. Por um pessoa tão inteligente e sensível quanto ele. Por uma pessoa interessante e engraçada, de quem você nem consegue sentir qualquer mágoa: um rapaz tão especial quanto ele.
Não se preocupe, acontece com todas nós.

sábado, 31 de março de 2012

Felicidade

"Acordar é fácil quando dormir é insuportável" ela disse enquanto soprava uma xícara de chá. Conversava pelo celular e atraiu a atenção dele. Esse foi o primeiro vislumbre que tivera do mundo tão particular daquela menina.
Ninguém sabia nada sobre ela. Endereço, conhecidos, gostos, manias; tudo era um enigma. Diziam que se chamava de Dalila, mas quem já havia tentado confirmar? Ela era um mistério, quase uma sombra, foi inevitável para ele se interessar. Então começou a observa-la.
Descobriu que sua cor favorita era marrom, seu livro preferido era Como me Tornei um Estúpido. Gostava de sanduíche de ricota com passas e não tomava café. Fazia psicologia mas amava mesmo a antropologia. Seu melhor amigo era o entregador da farmácia; sua melhor amiga, sua irmã e o porteiro do prédio onde morava era quase um pai. Tinha um cachorro chamado Lênin e era falante desde que se dirigissem a ela primeiro. Ele estava encantado.
Na primeira vez em que se falaram, estava chovendo. A menina andava na chuva como se dançasse quando ele esbarrou nela - que ofereceu seu guarda-chuva ("aceite, você pode ficar gripado"). Conversaram sobre Belle and Sebastian, banda que estampava as camisetas de ambos. A chuva parava ao mesmo tempo em que ele, de fato, se apaixonava.
Os dois almoçavam juntos e todos os dias passavam duas horas e meia deitados na grama lendo livros que recomendavam um para o outro. Faziam passeios ao zoológico e, vez ou outra, iam ao circo.
Moraram juntos, tiveram filhos, casaram-se ao ar livre, no exato momento em que o sol cedia lugar a noite.
Ela deixou de passar noites insones. Ele aprendeu a tomar chá com uma dose de whiskey. Brigavam. Discutiam mais do que qualquer um imaginava. Faziam guerras de comida na cozinha. Dividiram uma vida e uma biblioteca invejável.
E os dois foram felizes.

segunda-feira, 26 de março de 2012

Aquele em que falo sobre minhas duas semanas de sonho.

Aos onze anos sonhava com a faculdade: iria fazer História (sem nenhum trocadilho patético). Eu podia ver minha vida de historiadora antes mesmo de conhecer essa palavra. Claro que aos doze anos, vi todo um mundo de possibilidades se abrir na minha frente, mas História sempre foi mais do que um desejo simples.
Aos dezoito-quase-dezenove ainda tinha aquela certeza inocente dos onze: queria História. Passar no vestibular foi tão único que deveria existir um adjetivo exclusivo para descrever.
Quando finalmente comecei o curso, tive medo. Um pouco de não gostar, muito de ter passado anos errada. Meu medo foi infundado. Duas semanas e já pude sentir na pele o que é ter cem páginas para ler em dois dias, o que é conviver com a estrutura um tanto quanto precária das universidades públicas (locais em que, atualmente, pretendo trabalhar - pretensão muito mais madura que trabalhar no Egito, sonho daquela menina da quinta série), senti o que é conhecer pessoas com a mesma paixão que você e outras com paixões muito mais hesitantes. Encontrei profissionais respeitáveis de várias áreas e me encontrei tão sedenta por conhecimento a ponto de ler as páginas pedidas e realizar pesquisas paralelas sobre tudo que parece minimamente interessante.
Estou amando cada segundo, cada pessoa que encontro e sobre quem leio, cada lugar. E, mais do que isso, estou descobrindo quem eu sou e o meu lugar na História (com o trocadilho patético).

sábado, 24 de março de 2012

Vida longa a eles!

Sempre acreditei em contos de fadas. Príncipes encantados, sonhos que se realizam, dragões que precisam ser derrotados, amizades eternas. Para mim, tudo sempre foi plausível.
Claro que não tenho mais idade para isso, mas a situação transforma toda a racionalidade em bobagem. Meus sonhos têm se realizado tantas vezes nesses últimos anos, meus dragões diários (ou vocês vão me dizer que seus medos e problemas não se parecem com dragões?) são contornados e - vez e outra, superados -, alguns sapos já apareceram e, acima de tudo, as amizades.
Por todas as minhas 19 primaveras, fui juntando conhecidos e alguns deles (as melhores pessoas que se pode conhecer) têm um quê de encantamento ao seu redor. Pessoas que, com um toque de mágica, transformam um dia terrível em um memorável, que lutam com dragões e fazem parecer fácil, que servem de exemplo de força, de inteligência, criatividade e talento. São esses os companheiros que quero manter em minha vida por todos os longos anos que - espero! - me aguardam.
Quero poder sentar com meus filhos e poder contar as histórias (porque tudo o que nos aconteceu foi real) com a Tia Amanda, a Tia Becca ("isso, filho, a mãe dos seus três amiguinhos que vêm brincar com você amanhã"), a Tia Lud, a Tia Camille ("isso, filhinha, a mãe da Jolie"), a Tia Palmeira ("mamãe, mamãe, você sabia que o nome dela é Thaís? Não é impressionante?"), o Tio Caio, o Tio Dudu. Quero que essas figuras incríveis conheçam minha casa, minha família e ainda estejam comigo no dia em que todos nós formos levados ao asilo. Quero ver a felicidade deles.
Então, amigos, prometam que ainda vão estar presentes em cada um dos momentos grandiosos dessa vida em que contos de fadas existem porque vocês estão presentes. Prometam que, mesmo que tudo mude, não vamos nos separar. E, por último, prometam que, se nos separarmos, contem aos seus filhos que são os amigos que transformam a fantasia em realidade, mostrem nossas fotos e digam a eles que amo vocês sinceramente (porque não vai ser a distância que vai mudar meus sentimentos).

sexta-feira, 23 de março de 2012

Diga adeus como se estivesse dizendo até logo;
Sofra por um dia;
Chore por três.
Levante a cabeça e siga em frente
Para quem sabe um dia amar outra vez.

Não foi sua aparência. Foram seus sorrisos, suas mensagens, suas ligações. Foi o seu jeito de me abraçar. Foi sua preocupação comigo - tão grande depois de tantos anos. Por falar nesses anos, não foram eles. Foi a sua voz, foram as histórias que me conta ao telefone.
Não foi o presente que você comprou, pelo menos não mais do que o chaveiro que você me roubou. Foi sua vida e o jeito que ela tem de combinar com a minha (e o fato dela ser tão diferente e irreal do ponto de vista do meu ponto de vista).
Além de tudo o que eu sei, foram os detalhes que ainda não descobri. E as coisas grandes que descubro todos os dias.
Foi por cada pedacinho de você que comecei a sentir algo tão inesperado que mal posso definir. E é por esses pedacinhos que não me atrevo a pedir nada a não ser o que você se dispõe a me entregar: sua amizade, sua atenção, suas ligações - em suma, coisas que já são infinitamente importantes para mim.

Necessário

Direi Adeus como jogo fora um pedaço de papel.
Me foi útil, me serviu de conforto.
Me machucou com as letras ali gravadas, verdades não ditas.
Desenhos descoloridos, rabiscados.
Dolorosamente difícil de me desfazer, mas necessário.
Despendi ali horas de devaneios a dois, eu e a caneta.
A meia luz, aos sussurros falei de amores e sonhos.
Inventei, criei, escrevi , descrevi.
Li e reli tantas vezes que se desgastou.
Passou o tempo e sua validade se findou.
Chegou a hora de dizer Adeus e agradecer por tudo o que passou.

quinta-feira, 22 de março de 2012

A Caixa

Guardei meu coração em uma caixa toda trabalhando de madeira envolta por correntes e cadeados. Deixei-a lá em seu canto escondida juntando poeira e histórias.
Até que você apareceu e achou minha caixa velha e surrada.
Limpaste-a, lustrou-a e poliu suas correntes e cadeados que nunca tentastes tirar. Afinal sempre estiveram lá não havia motivos para supor que ainda havia chaves capazes de abri-las.
Elas existem e estão como novas, minto estão acabadas, mas não esquecidas. Ainda servem a seu propósito de proteger meu coração que você pegou sem saber e cuidaste tão bem sem nenhuma ideia ter do conteúdo da caixa.
Cogitei a ideia de te entregar as chaves de maneiras anônimas, pequenos presentes. Mas tendo medo do que irás encontrar dentro da minha caixa e principalmente o que farás com seu conteúdo. Jogarias fora, devolveria para a caixa, cuidaria dele, usaria-o para adornar sua mesa? Tanto faz. Não o farei, não agora.
Obrigada por cuidar e continuar cuidando do meu coração mesmo que por acidente. Quem sabe um dia quando estiveres disponível e eu ganhar coragem não me apresento e te presenteie com as chaves do meu peito.
Mas engraçado como invadistes meus pensamentos, bagunçando-os, infligindo em mim sonhos ao teu lado, onde "Nós" é mais do que apenas eu e você.
Não é justo possuíres meu coração e invadires minha psique e não ter a mínima noção
de tal feito heróico.
Derrubastes todas minhas barreiras e infiltraste-se em mim sem talvez ter desejo de ficar e se estabelecer. Mas tua marca ali estará gravada em sua letrinha de menina romântica na tampa da minha caixa como uma etiqueta de propriedade.

domingo, 18 de março de 2012

Sobre amores repentinos, intensos e passageiros.

Mariana chegou atrasada e se sentou na cadeira vazia próxima ao interessantíssimo - até então - desconhecido Matheus.
Dez minutos bastaram: ela estava apaixonada. Como foi doce a noite em que conheceu Matheus!
Os dois conversaram e se deram tão bem que ela não pôde entender como pensou amar outro alguém. E sabia que ele gostara dela. Cada troca de olhares e cada um dos sorrisos só a encantavam mais e mais.
Dizer adeus doeu, mas foi uma dor doce. Quase como aquele momento em que se acorda mas o sonho ainda parece possível.
Ir para casa foi irreal, tudo parecia igual quando nada dentro dela o era.
Dormir foi impossível. Mariana dançava pelo quarto em silêncio, escrevia finais felizes para eles, fazia rimas de amor. Ela sabia que os dois funcionariam juntos, toda a pizzaria em que se encontraram testemunhara que sim.
Toda a semana que se seguiu foi um misto de saudade e doçura que se recusava a desaparecer da vida da menina.
E todo o ano seguinte foi como deveria ser: sem Matheus, sem encontros inesperados, sem corações exaltados por causa dele. O amor tão forte não tinha espaço na vida cotidiana, pertencia a uma noite perfeita.
E Mariana seguiu sem outros amores de uma noite só, seguiu e cresceu. Ser adulta não combinava com esses amores.
Mas, ah! Como foi doce a noite em que conheceu Matheus!

terça-feira, 13 de março de 2012

Minha pressa e minha prece.

Ver você. Tão lindo, tão diferente, tão seu (quando deveria ser meu).
Ver você. Meu coração disparado, minhas mãos suadas, o tempo parado.
Ver você. Você sorriu, conversamos por dez minutos (enquanto eu queria tão mais!), você se foi. E continuou dono do seu coração, enquanto se transformava em dono do meu (que ainda grita "Ame-me!").

segunda-feira, 12 de março de 2012

O beijo.

Um beijo mudou duas vidas inteiras.
Ele era todo fumaça. Outrora amigo, mudou sua natureza por ela.
Ela era fogo: não podia ser detida. Por isso ele se tornou um vestígio de tudo que poderiam ser: apenas o rastro dela; enquanto ela seguia em frente, destruindo, queimando.
Ele era alarde, era um indício de coisas melhores, mas ela preferia observar à distância, apreciar imagens embaçadas de outra vida.
Aquela menina era cruel, misteriosa, difícil. Possuía um coração partido que, justamente por estar partido, não sabia mais sentir. Tinha olhos escuros, bondosos e enganadores. Tinha um próprio universo. Era tão única que ele se perdeu em seus rodamoinhos de idéias e caiu de amores por ela.
Aquele menino não é mais o mesmo. Não é feliz, não faz o que costumava. Ainda não esquece por um minuto sequer aqueles olhos de Medusa que ela tem. E ela segue impiedosa. É mais que fogo - desejo e calor. É água. É uma torrente fria e forte. Nada a impede de ir, deixando tudo para trás, carregando os corações que quebrou pelo caminho.

Soneto de um Marujo


Em minha caravela perdida nos sete mares
A mercê de tempestades
Tento quase em vão ficar acima do mar
Enquanto ele tenta me tragar.

Me recuso a naufragar
A nadar, nadar e nem na areia chegar.
Rezo para Posseidon, Neptuno (quem ele hoje for) para me salvar
Não perecerei no mar.

Caso venha a esvaecer
Na mão das sereias há de ser
Com suas belas vozes me embalando

Escondendo suas verdadeiras formas, me velando.
Me seduzindo para seus braços
Onde morreria em seus abraços.

sexta-feira, 9 de março de 2012


Percebo querer mais. Adoro o que já temos, as longas conversas, os beijos doces, as coisas em comum, as diferenças de opinião, mais conversas, assuntos infinitos. Mas quero mais.
Quero-a para mim apenas, esconde-la do mundo como ser egoísta que sou. Guardaria-a para mim como a um tesouro incalculável.
Mas não a prenderei, longe disso. Deixaria-a livre como o vento, mas gostaria de correr ao seu lado, ser seu par.
O que são dúvidas e hesitações quando a vejo assim. Livre, solta em seu próprio mundo, em que me foi permitida breve entrada.
Sois complexa menina, como uma rosa de aroma e forma esplêndidas, mas com espinhos a lhe guardar.
Impotente, inútil, simplória é como me sinto perto de ti.