Maurício acordou com vontade de tomar sorvete. Vontade de correr descalço, de dançar na chuva que batia forte em sua janela, de cantar músicas tolas e de se declarar. Tomou banho, tomou seu café da manhã que tinha gosto de papelão, pegou seu carro e foi ao trabalho.
O escritório, como em todos os dias, o fez querer sair correndo. "Um dia vou tomar coragem e fazer algo de que realmente goste" pensou Maurício, como em todos os dias.
O dia transcorreu normalmente: cinza. E não aquele cinza bonito, pesado, saturado de emoção e sentimento; era o cinza que passa sem que mereça um segundo olhar, o vazio. Mas as vontades continuaram. Amanhã. Amanhã. Amanhã. Maurício sempre deixava para amanhã.
Fim do expediente. Academia. Mercado. Casa. O silêncio. A solidão. Ele não podia aguentar mais uma noite tão igual às anteriores. Carro. Sinal vermelho. Motorista bêbado.
Maurício morreu com vontade de viver.
Nexo provisório é fazer sentido num momento e no seguinte não. É mudar. É evoluir, é regredir. É não se prender a um momento, mas saber que foi importante. É saber que ele não precisa fazer sentido, precisa ser sentido.
segunda-feira, 30 de abril de 2012
Vontade
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Nham tadinho do Maurício. " saturado de emoção"
ResponderExcluirFantástico! Opa, espera só um pouquinho que eu vou ali viver...
ResponderExcluir"Maurício morreu com vontade de viver." arrepiei lendo esse texto.
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