segunda-feira, 30 de abril de 2012

Vontade

Maurício acordou com vontade de tomar sorvete. Vontade de correr descalço, de dançar na chuva que batia forte em sua janela, de cantar músicas tolas e de se declarar. Tomou banho, tomou seu café da manhã que tinha gosto de papelão, pegou seu carro e foi ao trabalho.
O escritório, como em todos os dias, o fez querer sair correndo. "Um dia vou tomar coragem e fazer algo de que realmente goste" pensou Maurício, como em todos os dias.
O dia transcorreu normalmente: cinza. E não aquele cinza bonito, pesado, saturado de emoção e sentimento; era o cinza que passa sem que mereça um segundo olhar, o vazio. Mas as vontades continuaram. Amanhã. Amanhã. Amanhã. Maurício sempre deixava para amanhã.
Fim do expediente. Academia. Mercado. Casa. O silêncio. A solidão. Ele não podia aguentar mais uma noite tão igual às anteriores. Carro. Sinal vermelho. Motorista bêbado.
Maurício morreu com vontade de viver.

3 comentários:

  1. Nham tadinho do Maurício. " saturado de emoção"

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  2. Fantástico! Opa, espera só um pouquinho que eu vou ali viver...

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  3. "Maurício morreu com vontade de viver." arrepiei lendo esse texto.

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