quinta-feira, 27 de setembro de 2012

Masoquismo Emocional

Dói um pouco. Essas músicas antigas que me enchem de nostalgia, esses filmes que podiam ser minha vida mas não são, esses livros que são tudo o que eu queria ter e tudo o que eu queria escrever.
Dói um pouco esse cheiro de madrugada, esse silêncio acompanhado pelo rádio que a  solidão me traz, essa vontade toda de ser meus sentidos e me fundir ao que sinto ao meu redor.
É um pouco engraçado como dói essa sensação de estar vivendo o que eu sabia que deveria viver da forma que esperava que fosse ser. Dói ser quem eu queria ser.
Dói, um pouco demais, carregar toda essa responsabilidade que é ser feliz. A felicidade dói, é um peso. Dói por ser grande; por se expandir; por se forçar para todas as direções, de dentro para fora, crescendo, crescendo, preenchendo, transbordando. Pesa por te lembrar, a todo instante, de que ela existe, está ali, te pedindo pra ser dividida, compartilhada, expandida.
Dói, e dói demais, dói imensamente, o amor. Dói se sentir queimar de amor. Mas quanto mais as chamas ardem, maior é a felicidade - que também dói. Quanto maior a dor, menor a dor: quanto maior essa, menores são todas as outras.
Dói um pouco pensar tanto em todas as coisas que me rodeiam. Mas dói da mesma forma que as minhas dores mais doces e eu sempre quero mais.
É verdade que tudo me dói um pouco, mas prefiro que doa, preciso que doa. Só assim posso saber que é real, que é intenso, que é meu.

sexta-feira, 21 de setembro de 2012

Minguante

Faço me escassa para poder me reencontrar. Me definia pelo que havia a minha volta, uma imagem reflexiva. Mimetizava, me camuflava ao meu ambiente. Agora, meu eu-camaleão se foi, perdeu as cores, a mutação. Virei-me apenas eu. Sem tirar, por, repor. Um poço de filmes, músicas e palavras embaralhadas. Mas parece que nada mudou, ainda sinto as mesmas coisas, tenho as mesmas dúvidas, sonho o mesmo sonho quando não estou a sofrer de insonia. Uma xícara, duas xícaras de café, um copo de chá gelado. Estou sem fome, obrigada. Estudo desmotivada, abandonada. Vejo filmes compulsivamente, e ouço listas infinitas de músicas que pararam de fazer sentido meses atrás. Perdi a conexão com o mundo, deixei de fazer parte, de compor. Quero poder querer sem medo, desilusões. Alimentavam-me de falsas promessas, abraços vazios. Deram me tanta imensidão,tanto espaço que fiquei oca, me camuflei tanto que tornei-me invisível a olho nu. Torno-me agora, de maneira consciente, plano de fundo e personagem secundário. Hei de crescer sozinha, sem herois ou anti-herois para me auxiliar. Galgarei minha vida sem nada esperar.

quinta-feira, 20 de setembro de 2012

Paralelismo

Eu nunca soube que um coração podia ser partido tantas vezes, de tantas formas diferentes, sempre pela mesma pessoa.
Tanta coisa mudou em mim desde que o conheci. E ainda me permito me aproximar sem pensar em proteções e me machucar de novo e de novo.
Nós dois tivemos uma história de desencontros. Nossas vidas são linhas paralelas. Nós nos amamos tanto, de tantas formas, e sempre do jeito errado. Foram amores diferentes, vontades diferentes, horas diferentes. E eu, depois de tanto perder e mudar e desencontrar achando que estava encontrando, continuo tentando encontrar um equilíbrio pro que devia ter acabado há tantos anos.
Mas não existe um equilíbrio. Só perdas. Perdi um grande amor, um grande amigo, um grande pedaço da minha vida. E eu encerro essa história com um conhecimento sobre partidas que nunca quis. Parti tantas vezes (com o coração partido) que não posso fazer nada exceto acenar enquanto ele parte (da minha vida e meu coração, pela última e definitiva vez).
Porém, todos sabem que linhas paralelas se encontram no infinito. Todos sabem, nossas vidas ainda se encontrarão. Nem eu nem ele jamais seremos capazes de partir pela última vez, meu coração continuará sendo partido.

segunda-feira, 17 de setembro de 2012

Quimeras

Tive um sonho certa vez em que eu era uma árvore. O tempo passava por mim; as minhas folhas (que se pareciam com meus cabelos) eram agitadas pela brisa; eu deixava as coisas acontecerem; deixava a energia fluir; sentia a seiva (tão parecida com meu sangue) correr calmamente; aguardava a vida tomar seu rumo enquanto eu estava parada, me sentindo tão parte do universo que não me importava por estar enraizada ali no lugar de fazer parte de fato.
No sonho, eu era feliz sendo uma árvore. Existia em paz. E nem sol, nem chuva estragavam minha alegria. Eu era uma árvore. Se não faria diferença o que eu pensava, não pensaria em absolutamente nada importante.
E fui deixando a vida prosseguir, os anos passarem. Sem refletir, sem debater comigo mesma, sem agonias típicas de quem tem a mente inquieta. O universo era eu, eu era uma árvore, a felicidade estava em saber desses dois únicos fatos.
Em algum momento passarinhos ofereceram liberdade: não asas literais, mas asas literárias. Me ofereceram poesia e conhecimento. Mas, em minha paz, não existia espaço para as perturbações na alma necessárias na busca por eles. Pedi que fossem embora, queria minha calma.
E, em minha solidão de árvore, acreditei em minha felicidade.
Acordei calma. Acordei feliz. Acordei me sentindo como se tivesse raízes e seiva e folhas. Mas, ao contrário do sonho, não consegui acreditar em minha felicidade e, por fim, as perturbações necessárias para a busca pelo conhecimento e pela poesia gritaram em mim.
Senti o sangue pulsar forte, não correr calmamente como aquela seiva fazia. E fiquei satisfeita por não ter as raízes. Porque sonho com as asas - se não as literais, ao menos as literárias.

domingo, 16 de setembro de 2012

Circular

Eu poderia ter todas as palavras do mundo prontas para serem usadas, mas nunca conseguiria fazer justiça aos seus olhos. Nunca seria capaz de explicar essa estranha fascinação que sinto por eles. Anos se passam e, quando te encontro, eles ainda me fazem pensar em metáforas ridículas, ainda me fazem parecer a menina que fui.
Porém, da última vez que os encontrei, não foi aquela menina que viram. Eu posso assegurar a qualquer um que viram todas as mudanças pelas quais passei; que ainda foram capazes de ver minha essência; que, pela primeira vez, viram uma mulher. Quase posso dizer que viram alguém desejável -ou talvez eu tenha refletido o meu desejo (mais uma vez imenso) no seu olhar.
Não posso negar isso, eu vi alguém desejável. Centenas de vezes mais desejável do que aquele outro alguém que eu jurei ter deixado para trás há mais de um ano. Ou talvez não, pode ter sido esse tempo sem vê-lo que me deu essa sensação.
Por uma razão qualquer, acreditei ver alguém com gostos parecidos com os da pessoa que sou hoje, e com uma voz (que mudou tão pouco mas parece tão mais sexy) que deveria ser usada baixinho perto do meu ouvido. Sei que vi alguém de conversa fácil e com mãos que quis sentir não nas minhas, mas na minha cintura. Pelo menos mais uma vez.
Eu sou incapaz de entender seus porquês para fazer o que faz comigo. Isso tudo não pode ser justo com minha pessoa. Toda vez que mudo e acredito não poder mais encontrar espaço para você, seus olhos aparecem me mostrando que suas mudanças acompanharam as minhas. A cada vez que penso ter superado essa vontade toda de você, seus olhos vêm zombar de mim. E agora já tanto faz se meus sentimentos ainda insistem em renascer ou se é só desejo que me empurra para você. Tanto faz se quero você ou seus olhos. Eu poderia ter todas as palavras do mundo, e ainda seria incapaz de explicar a confusão em que você me coloca.
Mas, se você disser que me quer, eu esqueço a confusão. E eu nem sequer peço por sentimentos, nosso problema sempre foi essa ânsia sem fim que sinto por você, essa complicação circular que faço de nós dois.

quinta-feira, 13 de setembro de 2012

Trilhas

Traço meu caminho usando linhas tortas. Faço minhas curvas com pequenas retas; sempre decisões tão certas no início, sempre experiências tão curtas.
Ando descalça - metáfora para "vivo correndo risco de me machucar". E como me machuco! Mas meus cortes ardem de formas doces e me nego a piedade.
Deixo o vento bater. Deixo a onda bater. Deixo a vida me bater. Deixo-me sentir o que puder sentir.
Vejo o sol pintando as árvores ao se pôr, vejo as sombras alongadas no chão. Não vejo meu lugar ("amor, me diga que o achei, e é contigo").
Então a angústia vem, as lembranças se vão, e não me perco. Sei bem quem sou e quem me dói. E as lágrimas escorrem enquanto torço para que formem um rio.
O vento me encontra outra vez. Por vezes, sopra suave. Por outras, sussurra meu nome. São nestas vezes que sei que vou ficar bem. Porque não sei meu lugar, mas o Vento promete me levar até ele. Fecho os olhos e deixo o Vento me bater. Me levar. Tanto faz. Ele ainda não me mostrou qual é este tal lugar. Mas continua prometendo. Eu continuo acreditando.
Talvez eu nem queira encontrar. Só quero as promessas do Vento, seu sopro, seus sussurros. Só quero as chances que a vida dá. Talvez eu já tenha achado, talvez eu pertença à procura. Não como uma eterna insatisfeita amarga. A procura é doce por si só, a amargura não cabe. Talvez pertença à ela por gostar dessa doçura. Principalmente por gostar de pequenos encontros. E encontros só são possíveis quando você se movimenta.
Então traço um novo caminho, novas curvas. Com pequenas retas. Vou descalça. Nenhum amor disse que achei meu lugar, mas o Vento continua prometendo.

quarta-feira, 12 de setembro de 2012

De Meia Noite às Seis

Tenho passado noites me revirando na cama pensando. Não pensando em coisas incriveis que mudariam o mundo, ou pensando no porque da minha existencia. Estive pensando por pensar, quase que divagando por horas a fio ao som do meu ventilador e do meu computador em constante alerta. Dependendo da trilha sonora ao fundo faço planos de viajar pelo mundo e me perder nele, penso em um sorriso com carinho, declamo poemas que nunca chagaram a ver qualquer luz que nao seja a da minha janela. De madrugada sonho mais acordada do que nunca. Invento problemas para soluções já existentes. Relembro de detalhes singelos do meu dia como um arco-iris na janela, um beijo roubado que presenciei. Sinto o lençol que me envolve parcialmente o corpo e penso como seria se estivesse flutuando a esmo no mar ou em uma piscina em qualquer outro lugar que não fosse esse. As vezes me pego sonhando em ser escritora e quando penso em escrever meus pensamentos me enganam e resolvem brincar de pique-esconde em meu subconsciente, me fazendo persegui-los por horas a fio até que percebo o quão claro meu quarto se encontra e vejo que mais uma noite se foi e eu a passei em claro. Lamento a noite improdutiva mas deixo de divagar e passo a fazer as contas de quantas xicaras de café me serão necessarias para permanecer de pé.

terça-feira, 11 de setembro de 2012

Momento Angular

Ele era cheio de ângulos. Seus ombros, seus cotovelos, seu rosto. Possuia aquela graça desengonçada típica de quem é muito magro. Seus pés e mãos pareciam compridos demais para seu corpo. Sua voz combinava com seu sotaque tanto quanto combinava com minhas manhãs.
Eu gostava de sua barba e de seus cabelos rareando. E gostava ainda mais das novas possibilidades que sua presença representava. Porque tudo o que eu desejava era possibilidades.
Naquela época, meu sorriso mudara. Menos bobo, menos frequente. Mais adulto. Eu era feliz, satisfeita com o desenrolar da vida, mas depois de mudar o sorriso, passei a procurar mudanças por todos os cantos. Talvez fosse essa procura que me levara olhar para ele: seus cantos. Cantos, pontas, ângulos.
Mas havia outra coisa que me atraía - ele iria embora. Iria em pouco tempo. A certeza disso, a data marcada para o adeus, me acalmava. Era um porto em meio ao mar de de possibilidades que ele era.
Também existia uma data para uma rápida volta. Essa, sabia eu, me manteria firme pelas semanas que se passariam. Para mim, tornava tranquila a partida dele.
E ele foi. Como tantos outros antes dele, passou por minha vida. Exibiu suas possibilidades, ensinou que as mudanças guardadas por estranhos podiam ser doces. E, no tempo certo, sem um segundo olhar, foi.
Eu, que gostava tanto de seus ângulos, assisti sua partida com calma. Acabei por esquecer sua volta. Não queria que voltasse, queria suas mudanças. E mudanças encontrei em muitos outros pequenos amores que me apareciam diariamente pelos corredores.

segunda-feira, 10 de setembro de 2012

Festa

Despi minha alma enquanto observava a lua subir no céu. Não que ela estivesse cheia e romântica, era uma lua minguante. Luas minguantes não servem nem pela poesia.
A lua minguante e eu crescente. Sem poesia. Mas ela subia no céu, amarela. E eu despia minha alma. E expunha meus segredos para um ilustre desconhecido. E via poesia no couro da jaqueta dele contra minha pele cada vez mais fria.
Então a noite foi passando. Falamos das nossas infâncias, dos nossos futuros. Falamos de rock e jaquetas de couro. De meus saltos altos vermelhos. Dançamos porque a noite chamava nossos nomes e a músicas pulsava agitada em nossas veias. A lua continuava subindo. O lago começara a brilhar refletindo o céu.
De repente tudo parecia pequeno. E o ar da noite era a única coisa que importava. E a madrugada ia ficando cada vez mais escura, enquanto a lua ia atingindo o pico. Eu esperava ansiosa pelo ápice daquela noite irreal.
Quando a lua atingiu o ponto máximo no céu, ele me beijou. Me parecia a única coisa racional a ser feita: celebrar a lua de toda e qualquer maneira irracional que eu pudesse imaginar.
Quando cheguei em casa, não pude me esquecer do cheiro da sua pele. Ou de como ele me conduzia na pista de dança. Ou de como os olhos dele pareceram bonitos antes de eu fechar os meus.
Não me esqueci principalmente de como despi minha alma. Nem da lua. Ainda não esqueço.
Deus! Eu devia ter bebido menos.
Mas, pelos deuses, como estava linda a lua!

quarta-feira, 5 de setembro de 2012

E por um breve momento foi-se.
Como uma onda a quebrar na areia da praia
Se findando para logo em seguida retornar
Foi um momento preparado,ansioso.
Toda uma preparação para na hora se acabar
E culminar em bolhas brancas e mais areia.
Juntam-se testemunhas dessa dança milenar
Um para cá, outro para lá (chuá!)
As vezes outros também se põem a balançar
Um tronco, uma boia, uma jangada abandonada
Sentem o ritmo do mar, gingam sem sair do lugar.
Mas ocasionalmente um viajante, um amante aparece
E lança sua sorte nas ondas, implorando para entregar
A garrafa com sua mensagem, a primeira donzela que encontrar.
Ah! Iemanjá, quantos amantes já não tiveras?