terça-feira, 11 de setembro de 2012

Momento Angular

Ele era cheio de ângulos. Seus ombros, seus cotovelos, seu rosto. Possuia aquela graça desengonçada típica de quem é muito magro. Seus pés e mãos pareciam compridos demais para seu corpo. Sua voz combinava com seu sotaque tanto quanto combinava com minhas manhãs.
Eu gostava de sua barba e de seus cabelos rareando. E gostava ainda mais das novas possibilidades que sua presença representava. Porque tudo o que eu desejava era possibilidades.
Naquela época, meu sorriso mudara. Menos bobo, menos frequente. Mais adulto. Eu era feliz, satisfeita com o desenrolar da vida, mas depois de mudar o sorriso, passei a procurar mudanças por todos os cantos. Talvez fosse essa procura que me levara olhar para ele: seus cantos. Cantos, pontas, ângulos.
Mas havia outra coisa que me atraía - ele iria embora. Iria em pouco tempo. A certeza disso, a data marcada para o adeus, me acalmava. Era um porto em meio ao mar de de possibilidades que ele era.
Também existia uma data para uma rápida volta. Essa, sabia eu, me manteria firme pelas semanas que se passariam. Para mim, tornava tranquila a partida dele.
E ele foi. Como tantos outros antes dele, passou por minha vida. Exibiu suas possibilidades, ensinou que as mudanças guardadas por estranhos podiam ser doces. E, no tempo certo, sem um segundo olhar, foi.
Eu, que gostava tanto de seus ângulos, assisti sua partida com calma. Acabei por esquecer sua volta. Não queria que voltasse, queria suas mudanças. E mudanças encontrei em muitos outros pequenos amores que me apareciam diariamente pelos corredores.

3 comentários:

  1. Caramba! é por isso que eu amo esse blog vlh! Mto bom!

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  2. Carol, você escreve tão bem! Anguloso e esguio: descrição precisa. Esse texto é demais, conseguiu captar um momento. Momentos vêm e vão, mas o que importa é o que repercute. E no final, tudo repercute.

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