Tive um sonho certa vez em que eu era uma árvore. O tempo passava por mim; as minhas folhas (que se pareciam com meus cabelos) eram agitadas pela brisa; eu deixava as coisas acontecerem; deixava a energia fluir; sentia a seiva (tão parecida com meu sangue) correr calmamente; aguardava a vida tomar seu rumo enquanto eu estava parada, me sentindo tão parte do universo que não me importava por estar enraizada ali no lugar de fazer parte de fato.
No sonho, eu era feliz sendo uma árvore. Existia em paz. E nem sol, nem chuva estragavam minha alegria. Eu era uma árvore. Se não faria diferença o que eu pensava, não pensaria em absolutamente nada importante.
E fui deixando a vida prosseguir, os anos passarem. Sem refletir, sem debater comigo mesma, sem agonias típicas de quem tem a mente inquieta. O universo era eu, eu era uma árvore, a felicidade estava em saber desses dois únicos fatos.
Em algum momento passarinhos ofereceram liberdade: não asas literais, mas asas literárias. Me ofereceram poesia e conhecimento. Mas, em minha paz, não existia espaço para as perturbações na alma necessárias na busca por eles. Pedi que fossem embora, queria minha calma.
E, em minha solidão de árvore, acreditei em minha felicidade.
Acordei calma. Acordei feliz. Acordei me sentindo como se tivesse raízes e seiva e folhas. Mas, ao contrário do sonho, não consegui acreditar em minha felicidade e, por fim, as perturbações necessárias para a busca pelo conhecimento e pela poesia gritaram em mim.
Senti o sangue pulsar forte, não correr calmamente como aquela seiva fazia. E fiquei satisfeita por não ter as raízes. Porque sonho com as asas - se não as literais, ao menos as literárias.
Nexo provisório é fazer sentido num momento e no seguinte não. É mudar. É evoluir, é regredir. É não se prender a um momento, mas saber que foi importante. É saber que ele não precisa fazer sentido, precisa ser sentido.
segunda-feira, 17 de setembro de 2012
Quimeras
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Ai Carol, eu queria ser uma árvore. Eu preciso, haha. Quanta fofura isso, que inveja da sua paz de árvore, dos seus cabelos de folhas, dos ventos que te tocavam e do tempo que nem te incomodava.
ResponderExcluirMuito melhor ser passarinho e ter poesia.
ExcluirEu acho que o contato com a natureza (longe da civilização) traz uma paz interna insubstituível (:
ResponderExcluirTexto bem escrito, tanto em forma, como em desenvolvimento. Sente-se de certa forma uma emoção pulsar sobre a prosa, o modo como a árvore é tocada pelos passarinhos que lhe oferecem asas. São essas coisas singelas que trazem certa paz ao espírito, meus parabéns.
ResponderExcluirQueria ter esse sonho... queria ser essa árvore.
ResponderExcluirMuito lindo carol, parabéns.
Beijos,
Julia
Não sei expressar o quão lindo isto é. Obrigada por me ter proporcionado esta idéia.
ResponderExcluirComo sempre , a carol conseguindo me botar um sorriso no rosto quando eu mais preciso. rs!
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