quarta-feira, 25 de julho de 2012

Óculos-de-sol

Sempre vou me lembrar daquele dia. O sol alto, quente, forte. A estrada passando depressa, as árvores passando depressa, as plantações passando depressa. A vida passando devagar, enquanto eu ouvia Beatles e deixava o vento bater forte no rosto.
É essa a lembrança mais intensa que trouxe daquela viagem: a própria viagem. As dúvidas que me apareciam enquanto os minutos se estendiam sob o sol, as respostas  que eu brincava de encontrar, a sensação do ar entrando e saindo do pulmão me mantendo viva (e tudo o que eu queria era estar viva), a efemeridade da vida que nunca antes me parecera tão bonita.
Perdida na minha solidão acompanhada dentro de um carro, pedia baixinho ao universo que me desse mais momentos como aquele. Eu não fingia, não me escondia, não me preocupava. Pensava de forma livre. Eu era meus pensamentos.
E de repente o automóvel parou. Crianças queriam ver a plantação de algodão.
Eu desci do carro, coloquei meus óculos-de-sol - que têm lentes marrons, porque as cores ficam mais vivas com elas -, os tirei e me permiti admirar o mundo, o dia, as pessoas, o sol.
Voltei para o carro com um único pensamento: "o mundo é como o sol, mais vivo sem os óculos".

sábado, 14 de julho de 2012

Espírito Idoso

Tenho o espírito idoso. Dezenove anos e às vezes me sinto uma senhora. Meu tempo pode ter sido curto, mas minha vida tem sido tão cheia de altos e baixos e baixíssimos que é difícil lembrar que nem adulta sou ainda. Mas eu não sou.
Estou no meu caminho. Aos tropeços; com quedas repentinas; esbarrando em quinas de mesas, portas fechadas e pessoas que cruzam meu caminho; mas no caminho. E é pela mulher em que estou me transformando que preciso me lembrar de que, afinal, são apenas dezenove anos.
Não posso assumir culpas e responsabilidades que nunca poderiam ser minhas. Não posso sentir medo toda vez que um sentimento bom me aparece, porque eu - como qualquer ser humano - mereço conseguir as coisas pelas quais lutei.
Não quero parecer autora de auto-ajuda, nem pretendo dizer o que tantos livros dizem à tantas pessoas em busca da felicidade. Mas muitos dos meus problemas poderiam ser resolvidos se eu me esforçasse para me lembrar de que posso mudar.
E eu tento mudar. Tento escapar da espiral de tristeza em que me joguei há tantos anos. E tenho conseguido. Porém, mais vezes do que gostaria de admitir, ainda me encontro deitada apontando cada erro meu, cada mínima falha que existe em mim. E me esqueço de enumerar tudo o que fiz para consertar o que não era certo.
Acontece que me preocupo demais e penso demais sobre a tristeza. E talvez a tristeza nem exista. Existe a infelicidade, e, com ela, é muito mais fácil lidar. Porque a felicidade está contida nela; está presente até mesmo na em seu nome palavra. Talvez Augusto Curry tenha escrito exatamente o mesmo. E talvez seja verdade.
Na próxima crise, pensarei sobre isso. E depois vou escrever um livro de auto-ajuda e enriquecer. Ou, mais provavelmente, vou aproveitar meu espírito idoso e queimar meu livro numa lareira enquanto faço tricô e penso sobre como os jovens deveriam se preocupar menos. Pois é inegável, nós realmente deveríamos.

domingo, 8 de julho de 2012

Tanto Tempo

Tanto tempo se passou e você não é mais que uma memória.
E isso não é mais que uma grande mentira.

segunda-feira, 2 de julho de 2012

Apenas Mais uma Noite

Essa noite sonhei que eras meu.
Acordei e a dor da saudade me abateu.
Teu nome entalado na garganta
Querendo se esvair, ser gritado.
Mas por meus soluços ele foi abafado.
Minhas lágrimas me enganaram
E por meus dedos escaparam
Tingindo meus olhos de vermelho
Refletindo meu desespero
Ao perceber que ainda amo você.

Eu Fragmentada

Vivo por momentos furtivos, facilmente despercebidos, como um arco-iris na janela que só se vê com o canto do olhar.
Sou feitas de instantes, de flashs, montada guadro a guadro para poder me movimentar.
Uma piscada e deixei de ser, de estar. Nunca sei o que os proximos segundos podem me contar.
Conto minha história por frases, sempre sem continuação ou alguma conclusão.
Sou colcha de retalhos, um trabalho em construção.
A procura do meu lugar, a espera de uma direção para onde caminhar.