quarta-feira, 25 de julho de 2012

Óculos-de-sol

Sempre vou me lembrar daquele dia. O sol alto, quente, forte. A estrada passando depressa, as árvores passando depressa, as plantações passando depressa. A vida passando devagar, enquanto eu ouvia Beatles e deixava o vento bater forte no rosto.
É essa a lembrança mais intensa que trouxe daquela viagem: a própria viagem. As dúvidas que me apareciam enquanto os minutos se estendiam sob o sol, as respostas  que eu brincava de encontrar, a sensação do ar entrando e saindo do pulmão me mantendo viva (e tudo o que eu queria era estar viva), a efemeridade da vida que nunca antes me parecera tão bonita.
Perdida na minha solidão acompanhada dentro de um carro, pedia baixinho ao universo que me desse mais momentos como aquele. Eu não fingia, não me escondia, não me preocupava. Pensava de forma livre. Eu era meus pensamentos.
E de repente o automóvel parou. Crianças queriam ver a plantação de algodão.
Eu desci do carro, coloquei meus óculos-de-sol - que têm lentes marrons, porque as cores ficam mais vivas com elas -, os tirei e me permiti admirar o mundo, o dia, as pessoas, o sol.
Voltei para o carro com um único pensamento: "o mundo é como o sol, mais vivo sem os óculos".

3 comentários:

  1. Sempre bonitas as lembranças das coisas mais simples, como admirar uma plantação de algodão. Parece que essas lembranças têm mais méritos, e, mesmo sendo simples, são intensas. Belo texto, Carol (:

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  2. Só comentaram por causa do chocolate que eu sei

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