quarta-feira, 28 de novembro de 2012

X

Novembro chegou e passou. E minha única vontade é conseguir escrever sobre meu coração partido há quase dez anos.
Faltam dois dias para completar uma década. Mais alguns dias e completo dez anos sem você. Dez. Cento e vinte meses sem ver você, falar com você, ouvir palavras suas. Três mil seiscentos e cinquenta e dois dias sentindo sua falta me bater, me sangrar, me partir em pedaços cada vez menores e mais tristes.
Às vezes eu ainda me pergunto como isso foi acontecer. Como você estava lá e de repente era só uma lembrança na minha cabeça de menina de nove anos? Eu era tão nova para lidar com essa ausência e de repente o universo me vem com essa dor maior que eu, maior que a minha vida, maior  até do que a sua vida (que foi curta. Foi muito curta). Como isso foi acontecer?
E agora faltam dois dias e novembro vai ter seu último dia, e dez anos vão ter se passado desde que você teve o seu último dia. Eu vivi mais tempo sem do que com você. Vivi menos tempo com você do que com essa ausência presente em cada momento.
Dói tanto saber que eu não te disse que te amava na última vez em que nos falamos. Será que você sabia? Será que imaginava que se partisse faria essa falta que só quem é amado faz? Tantas coisas que eu deixei de te dizer, tantas coisas que eu devia ter dito.
Naqueles primeiros dias sem você, dias em que você estava em coma, eu fazia uma lista de tudo que queria te contar quando você acordasse. Mas você não acordou e eu mantenho essa lista. A cada grande acontecimento, eu acrescento um tópico nessa lista gigantesca de coisas que você ia querer saber. E essa lista absurda e sem sentido é a única forma que encontrei de sentir que tenho minha mãe nos meus dias.
Dentre tantas outras dúvidas, eu me pergunto se hoje eu sou alguém de quem você se orgulharia. Se eu te decepcionaria como filha ou como pessoa. Se eu sou uma pessoa ao menos parecida com quem você era.
Eu queria tanto ter mais um dia com você! Eu queria tanto, pelo menos mais uma vez. E então eu finalmente poderia dizer que te amo.
Mas novembro já chegou e passou. E, no dia trinta, dez anos vão ser completados.

sábado, 24 de novembro de 2012

Hedônismo Hostil

Dor sem razão
Vazio completo
Uma eterna solidão
Tomada a cada dia com sofreguidão
Tomada em copo de ouro
Em benevolente servidão.

A Derradeira

Nunca em primeiro lugar
Nunca a primeira escolha
Nunca alguém para se recordar
Nunca , nem mesmo para si mesma.

sexta-feira, 16 de novembro de 2012

Outra Última Vez

Eu me encontrei, mais uma vez, em frente à sua porta. Pedindo um pouco de atenção, pedindo que aceitasse as palavras que escrevi sobre você durante cinco longos anos. Cá estou eu, na sua porta, na sua frente, pedindo mais uma vez para entrar.
Mesmo que eu saiba (e sei bem demais) como é ficar do lado de fora, continuo batendo. E sempre me prometo que essa é a última vez. E sempre acabo voltando. E me recuso a aceitar que essa é realmente a última vez, porque escrever sobre você parece tão certo nessa minha vida torta.
Entenda, não estou pedindo amor. Não estou pedindo que cuide do meu coração. Eu só quero poder entrar mais uma vez, ficar - quem sabe? -, escrever sobre você. Se não for incômodo me receber mais uma vez.
Mas eu não quero ser hóspede na sua vida. Também não preciso morar nela. Eu só quero existir nesse universo tão seu. Vou fazer meu melhor para não atrapalhar. Essa é a última vez que venho até sua porta e peço isso, digo para mim mesma. Porém, nós dois sabemos, todas as vezes que eu olhar nos seus olhos vou me convencer a voltar e pedir só mais uma vez.
Então vamos nos poupar de todo esse drama. Só me deixe entrar. E, se você quiser que eu fique, essa vai ser a última vez que te peço.

quinta-feira, 15 de novembro de 2012

Revanche

Eu vou queimar a casa em que você mora. Vou roubar sua coleção de discos. Vou arranhar as portas do seu carro.
Vou pegar cada livro seu e deixar dentro uma foto nossa para você se lembrar de como era comigo. Vou rasgar cada foto sua com ela. Vou deixar minhas roupas dentro do seu armário e te fazer se lembrar de mim todas as manhãs.
Meu bem, ambos sabemos que estou mentindo. Fui para não voltar. Arranquei de mim todo o vestígio de sentimento que cultivei por você. Mas ainda assim eu vou me transformar no seu pior pesadelo. Vou ser o fantasma do qual você não consegue se livrar. Você sabe, nunca vai se libertar da minha presença.
Seu livro preferido, a música que você costuma cantarolar enquanto toma seu banho, os restaurantes que você frequenta, sua camiseta mais bonita: nada mais são do que lembretes de que eu existo. E você vai conviver diariamente com a lembrança do que me fez. Da tristeza que causou.
O peso que carreguei não é nem metade do que você vai carregar de culpa. Eu não preciso - nem quero - me vingar. O preço que você vai pagar já é alto demais.
Estou saindo limpa do nosso caso. Você não. Nada vai apagar esse fato.
Antigo amor, tente largar essa culpa. Eu te perdoei (mesmo que eu saiba que, no fundo, você nunca vai se perdoar). Vai procurar um jeito de ser feliz e me deixa seguir com minha vida, mereço ser mais do que um fantasma. Eu não quero essa vingança.

domingo, 11 de novembro de 2012

Asfixia Nominal

Te vejo e tenho vontade de lhe gritar
Teu nome me vem a garganta implorando para se libertar
Não posso! Não vou. Não devo...
Deixo te passar
Mas teu nome continua lá a me sufocar.
A garganta dói de tanto me conter
E os olhos ardem das lágrimas que não deixei descer.

Errante

Veio de dentro me queimando, transformando-me em fuligem. Em restos débeis e diminutos, espalhados pelo vento como tudo que um dia havia almejado.
Estou por toda parte, sou tudo e nada ao mesmo tempo. Sou? Fui!(Jamais) serei...
Mas como fênix renasço do nada, de tudo que já fui um dia. Saio melhor, de cabeça erguida ciente do que que deixei de ser, mas sem noção do que hei de me tornar.
Tantas possibilidades, tantos caminhos a trilhar, mas nem um norte, seguer uma estrela para me guiar.
Resnascida e perdida, a entrada desse labirinto que é a vida. A cada curva uma surpresa, um beco sem saida ou encruzilhada à encarar.
Que será que me espera ao fim dessa jornada, que a nada parece levar? 

Rien de plus...

Queria dizer que aprendi
Que cresci e não me arrependi.
Meias verdades que passei a distribuir.
Proclamando-as, jogando-as ao ventos
Para quem sabe alguém me ouvir
Se importar com o que eu tenho para contar.
Me iludi.
Quando achava que alguém viria me resgatar
Era o eco de meu próprio desespero
Que voltava para me assombrar.
Ribombava em minha fortaleza
Abalando-me inteiramente.
Soterrando o que sobrara de mim.

Virei pilha de destroços.
Voltei a ser nada para você.
Voltastes a me esquecer.