quarta-feira, 30 de maio de 2012

Oração

"Que dure enquanto for bom para nós dois" foi minha prece involuntária enquanto eu via um filme com minha mão na dele. Foi a primeira vez que pedi com palavras o que já dizia com meus atos.
Cada beijo, cada abraço, cada um dos meus dedos que apertam os dele. Cada fio do meu cabelo que parece sempre voar para seu rosto. Cada sorriso e pensamento. Cada batida do meu coração. Cada pedacinho de mim pertencente ao "nós dois" é uma oração.
Minha mente, meu corpo, minha alma desejam o que realmente era meu pedido durante aquele filme: que dure enquanto for bonito e, principalmente, que possamos encontrar beleza para que dure mais um pouco. Porque meu amor é infinitamente grande. E, se minhas orações forem atendidas, infinitamente dele.

domingo, 27 de maio de 2012

φεγγάρι

Faço-me Estrela por você.
Apareço ao anoitecer, te fazendo companhia.
Para ao raiar do sol me esconder.

Sois Lua, alva e majestosa no céu.
Imcompreendida musa dos amantes.
Disse solitária, mas se olhares em volta me verás replicada,
Copiada só para te acompanhar. 

Almejas a Terra, tão distante de ti.
Romantizas teus reflexos em águas azuis e turbulentas.
Mas diferente de Narciso não podes se afogar, por si mesma se apaixonar.

Falas mal dos outros planetas
Os quais não costumas contornar.
Minguas ao ver tuas irmãs luas a brincar.

Virás criança depois do anoitecer
Pintando de branco o céu, até o alvorecer.
Me ofuscando, sua Estrela, sem saber.


terça-feira, 22 de maio de 2012

Quimera

Em momentos de profunda concentração perco o foco e não sei dizer se estou dormindo ou não. Minha percepção não é mais consciente, se é que se faz presente. Não consigo mais discernir o que é sonho , realidade ou meu desejo real.Olhos desfocados procurando um ponto para se fixar, um lampejo de algo para me situar. Nada é o que costumava ser, mas também não me é estranho, novo. Já estive aqui antes.

segunda-feira, 21 de maio de 2012

Nós-líricos.

Nós escrevemos. Sobre ninguém, para ninguém. Escrevemos num ato solitário de quem tenta reconhecer o mundo dentro de si. E então nos lêem. Nossos mundos particulares expostos numa vitrine; que nos julguem, que nos comparem, que nos escolham. Nossa solidão tão dolorida e prazerosa acompanhada por quem lê, as idéias se misturam, os mundos se misturam. As frases se misturam.
Nossas mentes conturbadas e inquietas sempre distintas das dos que convivem conosco encontram semelhantes quando são lidas. E quando lêem.
A escrita é, antes de tudo, leitura. Lemos o mundo, as pessoas, os sentimentos. Lemos livros, textos, jornais e bulas. A palavra escrita, a falada e a pensada. Amamos as palavras.
Temos uma necessidade de atenção: não como indivíduos, como escritores. Passamos pelos dias como fantasmas, aceitamos estar à margem. Mas nossos escritos nascem para serem lidos. Mesmo que por nós mesmos. Engraçado como a atenção que desejamos costuma ser a nossa. Acontece que, no nosso afã de compreender o ser humano, costumamos nos esquecer de nos definir como indivíduos.
Somos egoístas de uma forma não-individualista: procuramos o todo em nossos interiores, a ponto de nos esquecermos de nós. Acreditamos que somos o universo, que o universo é nosso íntimo.
Escrever se torna uma forma de compreender a dimensão abstrata conhecida como realidade. Nossas cabeças cheias de nós - daqueles difíceis de desatar - procuram sentido no aleatório ao nosso redor. Nossos nós continuam embolados, mas fazemos deles nossos bens mais preciosos: nossas inspirações.
E então nós escrevemos.

sábado, 19 de maio de 2012

Labirintos

Não há novelos de lã dourada em meu labirinto que possam me mostrar a saída.
Não foi projetado por ninguém menos do que eu.
Meu minotauro tem outro(s) nome(s).
Fiz questão também de me perder dentro dele.

Sem saída, sem norte, sem cantos. Apenas um emaranhado de mim.
Meus medos, anseios, dúvidas me perseguem desde de que aqui entrei.
Vago a esmo nesse mundo que é tão meu. Mas de tão meu não o conheço.
Feito de lágrimas e desilusões. Meu castelo de cartas que nunca ruirá.

Em seu centro pus meu bem mais precioso.
Não é meu coração, esse já o dei a muito tempo. Nunca o recuperei.
Falo de minha razão, meu juízo. Meu eu dos eus.
Aspiro chegar ao coração de meu labirinto para quem sabe vir a me reencontrar.
Não há pressa em chegar ou sair de lá.
Mas a ideia de tempo é vaga. Por certo incerta.
Como um sonho.

sexta-feira, 18 de maio de 2012

O Grande Amor de Bruno

Bruno chegou em casa alegando estar apaixonado. Resolveu apresentar a pessoa que amava aos seus pais. Contou que, quando a encontrava, seu coração acelerava e suas pernas tremiam. Contou como eram doces os beijos pela manhã quando se encontravam após o final de semana. Que quando a pessoa declarava seu amor, o mundo parecia fazer sentindo e toda a sua vida parecia ter sido escrita para que aquele momento acontecesse. Que o sorriso tão amado era a razão do seu. Que seu coração parecia transbordar de tanto sentimento.
A mãe de Bruno se preocupou, teve medo de que seu filho estivesse sendo enganado por uma menina baixa. Ele lhe explicou que acreditava cegamente no amor que os dois sentiam, quando se abraçavam os corpos pareciam se encaixar e os corações batiam em sincronia. Ninguém poderia ser capaz de forjar um sentimento tão intenso. A mãe sorriu: qualquer um que fizesse seu filho tão feliz era uma boa pessoa.
O tempo passava e o sentimento crescia; os dois eram prefeitos juntos, os dias compartilhados eram a melhor coisa da vida do casal. As discussões eram resolvidas com conversas e beijos, a rotina os aproximava, as bocas sorriam sempre mais.
Bruno resolveu se casar. Queria formar uma família com o amor de sua vida. Teve três filhos, quatro cachorros. Sua vida era mais feliz do que jamais esperara quando falou de seu grande amor aos pais. Naquele dia, teve medo de ter seu relacionamento desaprovado. Sim, sua vida era feliz. Perfeita, talvez. Ele, seus filhos, sua casa, seu Paulo. Era o amor de Paulo que o levara até aquele estado sublime de alegria duradoura.
Por Paulo, Bruno deixava de ouvir o que diziam sobre o relacionamento deles: o amor pertencia aos dois, e nada mais importava.
E quem se atreve a dizer que o amor seria mais bonito se, no lugar de Paulo, Bruno tivesse uma Paula? Nenhum sentimento é mais puro que o amor.

domingo, 6 de maio de 2012

Mémórias de Um Romance

Palavras me fogem como folhas ao vento. Se embaralham formando poesias sem sentidos mas com muitos sentimentos. Perdidas em redemoinhos de inspiração e quando sossegam formam o teu rosto, tua imagem por meus olhos e memória. Não lembro o timbre de tua voz, ou a macies de tua pele, mas nunca esqueci o turbilhão por ti causado dentro de mim a cada vislumbre teu.
Meus olhos te seguiam brincando , fingindo não o fazerem, mas sempre esperando reconhecimento, um meio sorriso ou até que seus lábios dissessem meu nome para que minha semana ficasse perfeita.
Ter por ti minha existência reconhecida era inimaginável, um sonho distante trancado em meu peito a sete chaves com a certeza de que nunca se tornaria realidade. Tinha consciência de que nunca fui certa para você.
Mas provaste-me errada, por um curto pedaço de tempo, a distancia de um sonho, fui tua e fostes minha também. Não foi pleno e nem eterno durante a duração, me queimou, doeu. Era amor de verdade. Sem ideal de efemeridade ou ânsias homéricas. Até que ele se modificou e passou a desejar e crescer. Queria ser mais.
Passou a ser arrebatador, a queimar por dentro e me consumir o ar e a razão. Encontrei-me louca, apaixonada, desvairada sem um pingo de contrição.Em teus lábios, em tuas palavras encontrei minha perdição.

sexta-feira, 4 de maio de 2012

Meu Menino

Um dia, você entrou na minha vida, com seu jeito único de me fazer sorrir e sua habilidade de dizer exatamente o que preciso ouvir: sempre a coisa errada, a piada boba, a brincadeira ridícula.
Você, que foi tão pequeno e frágil, acabou se revelando como minha maior força. Era porque você chorava que eu me forçava a sorrir e tentar consertar a bagunça em que sua vida tão curta se transformara. Foi porque senti que você precisava de mim que esqueci que eu sofria e que também era uma criança. Ainda é assim, deixo de me importar comigo se você precisa da minha atenção.
Você, já tão perto de deixar a infância, me parece aquele bebê para qual passei meia hora olhando quando chegou em casa. Hoje sinto uma necessidade maior de te proteger do que senti naquela tarde. Talvez por hoje eu saber que você é uma das pessoas mais importantes da minha vida, uma das mais indispensáveis. Talvez por saber que você passou por mais tristezas do que aquele bebê merecia.
Uma das minhas lembranças preferidas é aquela vez em que você escreveu uma redação em um trabalho da escola sobre uma pessoa importante. Saber que você me escolheu dentre todas as que vivem contigo fez meu coração tão mais alegre!
Por vezes sou dura demais. Espero tanto de um menino pequeno, eu sei. Mas todas as noites desejo que você nunca duvide do amor que sinto, amor tão profundo que me permitiria fazer qualquer coisa para te fazer feliz.
Você merece ser feliz. Porque é o menino mais doce, a criança mais inteligente, a pessoa mais bonita que já conheci. Porque é muito mais do que eu costumava pedir e imaginar. Porque é o meu e o melhor irmão.