Tem uma aranha morando na janela do meu banheiro. Para fins inexistentes, digamos que seu nome é Valéria.
Não sei muito sobre Valéria. Ela anda bastante, costuma me encarar, gasta seu tempo livre me aterrorizando e tem sempre por perto uma bolinha de teia que pode conter seus filhotes ou sua comida (ou, mais provavelmente, os dois, tendo em vista que ela é membro ativa do grupo dos aracnídeos demoníacos).
Enquanto eu tomava banho hoje, fechei os olhos e repeti para mim mesma o quão irracional é meu medo da pequena e cruel Valéria. Claro que depois de dois minutos entrei em desespero e precisei me certificar diversas vezes de que nenhuma amiga dela estava perto de mim.
Viver é tomar um banho de olhos fechados quando existe uma aranha na janela. O medo é constante, as incertezas te assombram; mas, vez ou outra, pode se ter a sorte de não cruzar com seus pesadelos.
Acontece que são os momentos terríveis que fazem o alívio ser real. Talvez seja a tristeza nada mais que a condição necessária para que a felicidade nasça.
Quem sabe se Valéria não é o que dá sentindo na vida? Mas, já digo antes que me perguntem, eu prefiro que Valéria se mude para outra janela. Ela pode dar sentido à vida de outro alguém - alguém que realmente a aprecie e não fique mortalmente apavorado.
Nexo provisório é fazer sentido num momento e no seguinte não. É mudar. É evoluir, é regredir. É não se prender a um momento, mas saber que foi importante. É saber que ele não precisa fazer sentido, precisa ser sentido.
domingo, 15 de abril de 2012
Valéria
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As teias de Aracne, as teias de Valéria. http://pt.wikipedia.org/wiki/Aracne
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