segunda-feira, 4 de junho de 2012

Dores de Dolores

Diziam que Dolores gostava de sofrer. Não era verdade, ela simplesmente se acostumara com a dor - tanto que não sabia mais separá-la de sua essência. Dolores abraçara o sofrimento como parte fundamental do quebra-cabeças que era e parte intrínseca à sua pessoa.
Pode-se dizer que a menina em caminho de se tornar mulher não conseguia ser feliz. Sua felicidade findava quando as noites tinham seu início e, sozinha, sentia seu corpo doer sob o peso de sua carga: uma tristeza profunda.
Os dias eram um pouco menos doloridos. Ela escondia tão bem seus sentimentos que quase era capaz de acreditar que sua vida era satisfatória. Mas não era. Dolores queria mais e era esse querer que a tornava tão infeliz. Seus caminhos eram sempre alterados por volta da metade, suas decisões eram tomadas permeadas por incertezas. Ela acreditava que sua confusão constante era a causa e, principalmente, a consequência de seu gênio tão incompatível com a felicidade.
Dolores tinha cicatrizes - literais e não - tão profundas que a faziam acreditar ser insuficiente para todo e qualquer ser humano que a rodeava. Cicatrizes que ela fazia questão de transformar em feridas abertas que sangravam - talvez o sangue e suas lágrimas pudessem livrar sua existência de toda impureza e dor presentes até então.
Existência era a única palavra que aceitava usar quando se referia à sua vida. Porque não vivia, passava pelos dias com vontade de morrer. Porém as manhãs continuavam chegando, lançando a menina em outra encenação.
E as pessoas ainda diziam que Dolores gostava de sofrer, quando tudo pelo que ela pedia era uma forma de separar o sofrimento de sua personalidade. Mas, pobre menina, se até seu nome era um conjunto de dores, como poderia ter esperanças de se libertar das correntes que eram suas dores?

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